Democratização da Literatura: Desenho de um Projeto para São Paulo

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Por Stella Verzolla Tangerino, para Carta Maior – 

O Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca (PMLLLB) busca a valorização institucional e social do livro e a ampliação de acesso à leitura

pmlllbsp.com

“O que fazer? é o que perguntam, em unanimidade, os poderosos e os subjugados, os revolucionários e os ativistas sociais, entendendo sempre com essa questão o que os outros devem fazer; ninguém se pergunta quais são as suas próprias obrigações.” 




Lev Nikolayevich Tolstoi

A metrópole, tão celebrada pelo modernismo, nos aponta espaços urbanos cada vez mais saturados, conectados por redes tecnológicas a exigir estímulos visuais instantâneos. Erodida pela velocidade, as cidades do nosso tempo se ressentem da estruturação de ações que efetivamente promovam sua gestão democrática.

A experiência histórica dá-nos a ver que os tratados urbanísticos de Alberti a Da Vinci vão tomando no correr dos séculos, cada vez mais os matizes de tratados de política. A leitura da ordem urbana que pretere o acesso igualitário a todos os seus habitantes esvazia a sociedade de sentido e atesta a primitiva condição de que não ultrapassamos ainda a fronteira de uma terça parte das disposições preambulares de nossa Constituição. Condorcet, à época de 1792, Deputado Constituinte do Departamento de Paris, em seu Projeto sobre a Organização Geral da Instrução Pública sentenciava: o aprimoramento dos cidadãos não é questão de organização escolar, mas uma questão política.

A resposta aos desafios que nos colocam as complexas questões da experiência urbana contemporânea somente por ser pensada e enfrentada politicamente em termos horizontais, dialéticos, de articulação e negociação do poder público com interlocutores da sociedade civil e grupos sociais envolvidos.

Neste cenário, São Paulo se projeta estruturando uma abordagem corajosamente original, o Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca (PMLLLB). Exemplo de política pública do nosso século, nascido da mobilização da sociedade civil paulistana e integrado por representantes das secretarias municipais de Cultura, Educação, Direitos Humanos e do Governo Municipal, da Câmara Municipal de São Paulo, da Biblioteca e Centro de Pesquisa América do Sul-Países Árabes, da Articulação dos Saraus Periféricos, do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) e do Serviço Social do Comércio (Sesc), além de entidades que representam escritores, editores e livreiros e os direitos da pessoa com deficiência.

O Plano busca a valorização institucional e social do livro, sua ampliação de acesso e a promoção da inclusão através da realização do diagnóstico das ações de leitura em equipamentos público e privado, para o Município; catalisando a integração entre escolas, bibliotecas e outros espaços e consolidando o incentivo aos eixos de criação e mediação da leitura, além da cadeia produtiva.

A elaboração de eixos temáticos de atuação, com inspiração no Plano Nacional  do Livro e da Leitura  (PNLL), e a realização da construção democrática da redação oficial do PMLLLB, submetida à aprovação da comunidade paulistana por meio de plenárias, são alguns dos instrumentos de viabilização das metas do Plano.

A iniciativa do Plano revela como é possível articular o desenvolvimento a partir do Município, a esfera mais próxima da população, projetando o poder local como expressivo promotor do desenvolvimento social, da coesão da área urbana, da cultura compartilhada.

É nosso o dever de contemplar a diversidade em todos os seus sentidos, de estimular a experiência urbana a cada realização cultural. Fazer com que a cidade e a sociedade sejam várias, projetando o multiculturalismo e a democratização do acesso aos aparelhos culturais, priorizando ações da agenda pública que tenham ressonância para toda a população. Ações que, a exemplo do Plano Municipal do Livro, nos tornem mais justos, mais fecundos e mais humanos.

(*)Stella Verzolla Tangerino, advogada, especialista em Política e Relações Internacionais pela FESP-SP e estudante de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP).

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