Denúncias de assédio sexual agitam o mundo da yoga

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Por Karla Marcolino, compartilhado de Projeto Colabora – 

Discussão sobre machismo e campanha #nãoexisteassédioleve mobilizam praticantes e professores nas redes sociais

Mulher marroquina pratica ioga ao ar livre, em Rabat. Foto Abdelhak Senna/AFP. Setembro/2007

Quem descobriu as aulas de yoga pela via online, na quarentena, não deve estar entendendo nada. Praticantes antigos e até professores também estão confusos e exaltados. Nas últimas semanas, posts de denúncia e protesto contra abuso e assédio sexual no meio, que já vinham pipocando, explodiram. O estopim foi a repercussão de uma live no Instagram, em que a youtuber Raissa Zoccal, criadora do canal de yoga e meditação Yogamudrá, recebeu o professor de Vedanta (estudo dos Vedas, textos hindus considerados sagrados e relacionados à origem do Yoga) Jonas Masetti. Em um trecho, replicado sob críticas e indignação, Masetti, em trajes característicos (o doti), chama o movimento, que vem tomando corpo nas redes, de histeria. Argumenta que uma mulher, tocada intimamente em aula, que volta a praticar com o mesmo instrutor, provavelmente gostou e até ficou feliz. Ri. Minimiza abordagens desrespeitosas por parte de professores chamando-as de “abuso leve”. Em resposta, centenas de professoras e praticantes aderiram à hashtag #nãoexisteabusoleve. Um vídeo em que algumas ironizam as falas viralizou. Organizações como a Aliança do Yoga publicou nota em que condena a postura e chama a atenção para o seu código de ética. Estúdios e professores como Pedro Kupfer e Mahavir Thury se posicionaram contra a fala.




A live que tirou o sono de Jonas e Raissa aconteceu logo depois de uma outra, promovida em 11 de dezembro pelo perfil @yoguinis.subversivas (que foi desativado, pois as autoras disseram ter sido ameaçadas). Nesta, a advogada e professora de yoga Thalita Behn Immich esclareceu dúvidas do tipo: O que configura crime ou como denunciar e, ainda, como desabafar nas redes sociais sem fornecer motivos para ser acusada de linchamento moral? Marcella Zamarioli, psicóloga e professora de yoga, viu a situação se inverter quando apontou um abusador que agiu em seu próprio estúdio. “Ele conseguiu assediar alunas online. Dava zoom na câmera. Não orientou nenhum ajuste, mas disse a uma delas que ela parecia deusa em Sirshasana (a famosa postura de cabeça para baixo), ficou enviando mensagens para outra, perguntando onde ela morava…”. Movida pelo desejo de alertar, Marcella postou, e está sendo processada. “Tive que tirar todos os meus vídeos do ar e não posso falar o nome dele”, conta. Em contrapartida, o Ministério Público aceitou a denúncia, feita por Marcella junto com quatro alunas, contra o ex-colega e ex-professor. Morando em Araraquara, a santista começou a receber relatos de abusos do país inteiro.

De Brasília, a paulistana Larissa Farias, do perfil @yogandobr, foi quem editou o vídeo resposta e agora organiza outra live, com a youtuber Luciana Prakash, do canal Yoga pra Você, sobre Assédio, Abuso e Yoga. Larissa é outra que já perdeu a conta dos desabafos que recebeu em dois anos e meio de canal. E diz que nunca entendeu a passividade com que estúdios recebem denúncias. Marcella acha que alguns não se posicionam para não perder contratos e alunos, outros realmente não se importam. Thalita diz que as escolas precisam se responsabilizar. Mahavir Thury acha que a cultura indiana, fonte do yoga, “é muito machista e patriarcal, o que acaba gerando essas distorções de conduta e avaliação”.

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