Publicado por Jornal GGN –
Depois de Sergio Moro ter sido exposto por usar delação sem provas para condenar o ex- tesoureiro do PT João Vaccari Neto, é a vez do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ter o trabalho de sua equipe especializada em Lava Jato questionado. Isso porque a PGR teria firmado um acordo de cooperação frágil com Delcídio do Amaral, apenas porque o ex-senador citou Lula.
A crítica velada ao acordo da PGR foi feita por um membro do próprio Ministério Público Federal, o procurador Ivan Cláudio Marx. Ele é o mesmo procurador que desmontou a denúncia contra Dilma Rousseff pelas pedaladas fiscais. Porém, em agosto passado, também usou a delação que agora põe em xeque para afirmar que Lula era “chefe de quadrilha”.
Em ofício enviado à 10ª Vara Federal de Brasília nesta terça (11), solicitando o arquivamento de um procedimento investigatório contra Lula, Ivan Marx apontou que a delação de Delcídio não tem “credibilidade” porque, ao que tudo indica, o ex-senador citou Lula apenas para poder “barganhar” junto à PGR e conseguir benefícios para si, entre eles, o de sair da prisão.
“Inicialmente, não se vislumbra no discurso de Delcídio a existência de real tentativa de embaraço às investigações da Operação Lava-Jato”, disse o procurador.
Para Ivan Marx, “não se pode olvidar o interesse do delator em encontrar fatos que o permitissem delatar terceiros, e dentre esses especialmente o ex-presidente Lula, como forma de aumentar seu poder de barganha ante a Procuradoria-Geral da República no seu acordo de delação.”
O procurador ainda lembrou que a delação de Delcídio pauta uma ação penal contra Lula em Brasília, por suposta tentativa de comprar o silêncio de Nestor Cerveró, que está em fase de alegações finais. Marx, que foi ábraçou a denúncia da PGR, indicou que também neste caso, Delcídio não conseguiu provar nada do que disse.
“A participação de Lula só surgiu através do relato de Delcídio, não tendo sido confirmada por nenhuma outra testemunha ou corréu no processo. Ressalte-se não se estar aqui adiantando a responsabilidade ou não do ex-presidente Lula naquele processo, mas apenas demonstrar o quanto a citação de seu nome, ainda que desprovida de provas em determinados casos, pode ter importado para o fechamento do acordo de Delcídio do Amaral, inclusive no que se refere à amplitude dos benefícios recebidos.”
“Assim, a criação de mais um anexo com a implicação do ex-presidente em possíveis crimes era sim do interesse de Delcídio. Por isso, sua palavra perde credibilidade”, concluiu.
Em outras palavras: Delcídio – que, segundo Nestor Cerveró, vinha desviando recursos da Petrobras desde os anos FHC – acabou escapando entre os dedos dos procuradores, que aceitaram o acordo de delação sem provas tão logo o ex-senador ofereceu implicar Lula e outros político graúdos.
Ivan Marx, que recebeu a missão de processar Lula em Brasília com base na delalão, agora reconhece que o Ministério Público não pode bancar as imputações que fez ao ex-presidente.
Em abril passado, a PGR já havia dado sinais de insatisfação com o acordo com Delcídio e ameaçado revogar a delação após a Odebrecht revelar uma série de crimes que não foram confessados pelo ex-senador.