Desafio persistente: a negação da luta coletiva pelo jovem

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Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem Blogado

Legiões de jovens periféricos não ligam as matanças policiais de seus iguais ao higienismo social defendido, quase sempre dissimuladamente, pelos reacionários.




É histórico que eleição municipal não está ligada diretamente ao pleito presidencial seguinte, embora o erro seja reverberado por muitos. Ponto. Os resultados das disputas por Prefeituras no próximo domingo ainda não podem ser analisados pela óbvia razão que elas não ocorreram ainda e, mais importante, movimentos de última hora têm sido cada mais frequentes no Brasil. Mas um dado relevante já pode ser apontado: a esquerda perdeu a flagrante hegemonia, quase monopólio, que ostentou durante décadas entre os jovens. Pode até ser majoritária ainda naquele bolsão etário, mas há um avanço da direita ali.

Não é um fenômeno brasileiro. O desencanto pela Política ou com as propostas mais à esquerda está perdendo espaço em várias democracias, principalmente europeias.

Ressalva feita para caracterizar que essa não é nova jaboticaba brasileira, tratemos de nosso quintal. É discurso comum pregar que “a esquerda não aprendeu a lidar com Política em rede social”.

Pode ser, é até provável que sim, que as forças progressistas não consigam falar com os jovens nas plataformas que eles gostam. Mas a razão de fundo é talvez mais complicada que isso.

Junto com a pouca inserção da esquerda nas plataformas, em comparação com a presença avassaladora da pior direita nas redes, existe a vitória, que esperamos momentânea, de uma espécie de teologia do empreendedorismo, do “só depende de seu esforço para você vencer na vida”.

Essa visão individualista é personificada na atual eleição paulistana, por exemplo, por um picareta da pior espécie como esse Pablo Marçal.

A negação da luta coletiva em busca de mais justiça social sempre foi vocalizada pelos grandes meios de comunicação, mas a “prosperidade” pelo caminho individual não está mais circunscrita à imprensa tradicional, cada vez, aliás, menos interessante para olhos e ouvidos jovens.

Hoje, empreendedorismo é palavra comum nas periferias, correndo junto com o esvaziamento de organizações civis e sindicais. Triste, ruim para nós, mas a política de avestruz não vai resolver o problema.

Há poucos anos, parte de nós ficou inconformada quando alguns beneficiados pelos programas de inclusão dos governos Lula vieram a público para manifestar apoio a políticos de direita que sempre se opuseram às iniciativas de Lula. Hoje, lamento admitir, a situação é muito pior.

Legiões de jovens periféricos não ligam as matanças policiais de seus iguais ao higienismo social defendido, quase sempre dissimuladamente, pelos reacionários.

O filho do metalúrgico do fim do século passado sabe que não encontrará mais as mesmas oportunidades e aceita, pode-se dizer com naturalidade ou no máximo resignação, a precarização do trabalho.

Muitos nem conhecem o que é CLT. Converse com jovens que trabalham em aplicativos de transporte em grandes centros e comprove isso.

Nada é definitivo no campo da Política. Mas se a esquerda não reconhecer que está perdendo a juventude que tanto a embalou, não haverá volta. Não adianta o discurso pobre de culpar o “imperialismo” pela adoção da defesa da busca da prosperidade de forma individual. Hoje, lamentavelmente, até os jovens cubanos querem é meios de comprar um tênis americano.

Bem, já temos a constatação. E como fugir e mudar essa realidade? Não há caminho fácil. Se houvesse, algum iluminado progressista já tinha descoberto, por óbvio. Mas é fundamental não fazer cara de paisagem ou Poliana e brigar com os fatos.

Cabeças brancas são indispensáveis e merecem todo respeito e gratidão pelas décadas de luta e sacrifício pela justiça social. Mas perder a juventude é não ter futuro.

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