Publicado em Pragmatismo Político –
Depois de espalhar boatos sobre Marielle Franco, desembargadora Marilia Castro Neves faz comentário repugnante sobre professora com Síndrome de Down. A educadora divulgou resposta irretocável à juíza
A desembargadora Marilia Castro Neves divulgou um ‘mea culpa’ após saber que está sendo investigada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) por conta de seus comentários caluniosos contra a vereadora Marielle Franco.
Com medo de punição, Marilia deixou de destilar ódio publicamente e agora só faz em um grupo fechado para magistrados no Facebook (Magistratura Free), onde imagina estar protegida para continuar vociferando seus preconceitos.
Em uma nova postagem, a magistrada desdenha de professores com síndrome de Down e questiona o que eles podem ensinar a alguém.
Débora Seabra, 36, primeira professora com síndrome de Down do Brasil escreveu uma carta em resposta à juíza que é uma verdadeira lição de tolerância e amor contra o ódio. Leia:
“Não quero bater boca com você! Só quero dizer que tenho síndrome de Down e sou professora auxiliar de crianças em uma escola de Natal (RN). Trabalho à tarde todos os dias com minha equipe que tem uma professora titular. Eu ensino muitas coisas para as crianças. A principal é que elas sejam educadas, tenham respeito pelas outras, aceitem as diferenças de cada uma, ajudem a quem precisa mais. Eu estudo o planejamento, eu participo das reuniões, eu dou opiniões, eu conto histórias para as crianças e mais um monte de coisas. O que eu acho mais importante de tudo isso é ensinar a incluir as crianças e todo mundo pra acabar com o preconceito porque é crime. Quem discrimina é criminoso“, escreveu Débora.
Segundo apurou o site DCM, o grupo ‘Magistratura Free’ registra 2.798 membros, entre juízes na ativa e aposentados em todo o Brasil e também no exterior.
Na descrição do grupo, um aviso: “Se não é juiz, não peça sua inscrição, pois não será aceita. Favor não insistir. Grato”.
Na comunidade, Marilia Castro Neves exerce clara influência sobre os demais e costuma ter seus comentários aplaudidos. Ela foi chamada de “corajosa” por espalhar fake news sobre a vereadora Marielle.
Repercussão
A Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down publicou uma carta de repúdio “à demonstração de preconceito manifestado por uma autoridade pública, a desembargadora Marília Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, em relação às pessoas com síndrome de Down”.
Na carta, a associação ressalta a luta empreendida pela sociedade e pelo estado brasileiro pela garantia dos direitos das pessoas com deficiência e critica a postura da magistrada.
“A FBASD considera que a mensagem carregada de preconceito, ofende, definitivamente, os ditames impostos aos juízes por seu Código de Ética. Textos dessa natureza claramente denigrem a magistratura e, assim, devem ser rigorosamente apurados pelos órgãos competentes, tais quais a Corregedoria do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e o Conselho Nacional de Justiça.”
Nas redes sociais, internautas também repudiaram a desembargadora. “A pessoa que se diz ser “desembargadora” sabe o que essa professora pode ensinar para alguém? Amor! Coisa que você não sabe o que é. Eu tenho 2 pessoas com síndrome de down em casa e te falo: são mais humanos que você”, escreveu uma usuária.
“Que falta de respeito. Imagino o que essa desembargadora deve ter falado sobre Stephen Hawking: quem esse inválido entravado numa cadeira de rodas pensa que é?”, publicou outro.
Primeira professora com Down
Débora Araújo Seabra de Moura tem 36 anos e trabalha há 13 como professora auxiliar em uma escola particular de Natal. Primeira professora com síndrome de Down do Brasil, ela é ainda autora de livro infantil chamado ‘Débora Conta Histórias‘ (Alfaguara Brasil, 2013).
Débora é uma sobrevivente. Ela sempre estudou em escolas regulares, junto com crianças sem a síndrome, venceu os preconceitos e realizou seu maior sonho.
“No momento em que ela nasceu, eu desejava que ela tivesse ficado no hospital, tivesse morrido mesmo”, contou Margarida Araújo Seabra de Moura, mãe de Débora, em reportagem publicada pelo Fantástico em 2013.
Nem o pai médico sabia o que fazer, 32 anos atrás havia pouquíssima informação a respeito. “No máximo meia página nos livros de medicina sobre. Não era nem síndrome de Down, era mongolismo”, conta José Robério Seabra de Moura, pai de Débora.
Querida pelos seus alunos e pelos colegas de profissão, Débora foi considerada exemplo no desenvolvimento de ações educativas no Brasil e recebeu, em 2015, o Prêmio Darcy Ribeiro de Educação.