Desigualdade educacional: analfabetismo nos quilombos

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A taxa de analfabetismo entre a população quilombola no Brasil é expressivamente mais alta que a média nacional. Segundo o Censo 2022 do IBGE, o índice de analfabetismo entre quilombolas é 2,7 vezes maior do que o registrado para a população em geral. Enquanto a taxa nacional é de 7%, entre os quilombolas esse número chega a alarmantes 18,99%. Este dado revela a persistente desigualdade educacional que afeta essa comunidade.

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 Foto: Marcelo Casal Jr/Agência Brasil

O levantamento do IBGE mostrou que 192,7 mil quilombolas com 15 anos ou mais são analfabetos, num universo de 1,015 milhão de pessoas nessa faixa etária. Esse foi o primeiro censo que incluiu informações específicas sobre a população quilombola, com base na autoidentificação dos indivíduos, independentemente da cor de pele declarada.

A coordenadora do Censo de Povos e Comunidades Tradicionais, Marta Antunes, destaca que a taxa de alfabetização reflete os investimentos na educação básica e de jovens e adultos (EJA) nas últimas décadas. A elevada taxa de analfabetismo entre quilombolas revela uma disparidade nas oportunidades educacionais oferecidas a essa população.

O Censo também diferenciou a taxa de analfabetismo entre quilombolas residentes dentro e fora de territórios oficialmente reconhecidos. Nos territórios reconhecidos, a taxa é de 19,75%, enquanto fora dessas áreas, é de 18,88%. Segundo Antunes, essa pequena diferença indica que o analfabetismo entre quilombolas está mais relacionado à sua etnicidade e ao acesso desigual à educação, e não tanto à localização geográfica.

O estudo do IBGE revelou que a taxa de analfabetismo entre quilombolas aumenta com a idade. Entre jovens de 18 a 19 anos, a taxa é de 2,91%, mas cresce drasticamente para 28,04% entre aqueles de 50 a 54 anos, e atinge 53,93% entre os de 65 anos ou mais. Em comparação, a taxa de analfabetismo na população brasileira com 65 anos ou mais é de 20,25%. A taxa de analfabetismo entre homens quilombolas é de 20,89%, maior que a das mulheres quilombolas, que é de 17,11%. Essa diferença de 3,78 pontos percentuais é maior do que a observada na população brasileira geral, onde a diferença é de apenas um ponto percentual.

A região Nordeste do Brasil apresenta a maior taxa de analfabetismo entre quilombolas, com 21,60%, superando a média nacional para essa população. Seguem-se as regiões Sudeste (14,68%), Centro-Oeste (13,44%), Norte (12,55%) e Sul (10,04%). Estados como Maranhão, Piauí e Alagoas apresentam taxas de analfabetismo quilombola superiores a 25%.

Dos 1.683 municípios analisados, em 81,58% deles, a taxa de analfabetismo entre quilombolas é superior à média local. Em 20,26%, essa diferença supera 10 pontos percentuais, indicando uma disparidade significativa dentro dos próprios municípios.

Os dados do Censo 2022 do IBGE destacam a urgente necessidade de políticas públicas voltadas para a educação da população quilombola. A desigualdade no acesso à educação básica e ao EJA continua a perpetuar altos índices de analfabetismo entre essas comunidades. Para enfrentar esse desafio, é crucial um investimento mais direcionado e inclusivo na educação quilombola, que leve em consideração as particularidades e necessidades dessa população tradicional.

Por Vitoria Carvalho, estagiária sob supervisão de Romênia Mariani

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