Levantamento do Imazon aponta queda de 42% entre agosto de 2023 a março de 2024 e atribui resultado a melhores políticas de proteção da floresta
Por Oscar Valporto, compartilhado de Projeto Colabora
Agentes do Ibama e da Funai em operação contra invasão da Terra Indígena Apyterewa, no Pará: menor índice desmatamento em terras indígenas desde 2018 (Foto: Funai)
As terras indígenas da Amazônia tiveram uma redução de42% na derrubada de floresta entre agosto de 2023 e março de 2024, a menor destruição em seis anos, desde 2018, de acordo com dados divulgados pelo Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) nesta semana do no Dia dos Povos Indígenas . Esse período marca os nove primeiros meses do chamado “calendário do desmatamento”, por causa das chuvas na região vão de agosto de um ano a julho do ano seguinte. “A baixa consecutiva na devastação demonstra que as políticas de combate à derrubada na Amazônia estão sendo eficazes”, afirmou a engenheira florestal Larissa Amorim, pesquisadora do Imazon na apresentação dos dados.
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Na comparação de março de 2024 com o mesmo mês do ano passado, a queda foi de 89%, passando de 3,77 km² para 0,42 km². “Para que essa tendência de baixa no desmatamento continue e para que esses povos possam se manter protegidos, é necessário que o governo avance com os processos de demarcação e de desintrusão das terras indígenas invadidas. Isso deve ser prioridade, já que esses territórios são escudos contra o avanço da destruição do bioma”, acrescentou a pesquisadora.
Exemplo positivo apontado pelo Imazon é a expulsão de invasores da TI Apyterewa, do povo Parakanã. O território foi a TI mais desmatada da Amazônia nos últimos quatro anos, mas desta vez não apareceu no ranking. O processo de retirada dos invasores – fazendeiros e pecuaristas – realizada por operação conjunta de Ibama, Funai e Polícia Federal reverteu o cenário. “Em 2023, a TI Apyterewa esteve entre as mais desmatadas por seis meses consecutivos. A redução do desmatamento nessa área pode estar associada à operação de retirada dos não-indígenas que estavam em situação ilegal no território. A Apyterewa já está há quatro meses seguidos sem aparecer no nosso ranking das dez terras indígenas mais desmatadas”, destacou Larissa Amorim.
O estado de Roraima foi o destaque negativo do levantamento de março. O estado concentrou seis das sete áreas demarcadas com maior índice de desmatamento no último mês – as TI Moskow, São Marcos, Yanomami, WaiWái, Manoá/Pium e Santa Inês. O Imazon lembra que o estado já vinha apresentando elevados números de diminuição de suas florestas desde o início de 2024.
Já em toda a Amazônia Legal, não apenas em TIs, o desmatamento caiu 60%. De acordo com o Imazon, março de 2024 foi o 12º mês consecutivo com queda no desflorestamento em todo o bioma. Embora em queda, a área de vegetação amazônica perdida ainda é alta, 1.948 km², maior do que a cidade de São Paulo. “É necessário ainda acelerar a destinação de florestas públicas para a criação de novas áreas de conservação e proteção dos recursos naturais, e punir devidamente os desmatadores ilegais. Assim estaremos mais perto de alcançar o desafio da derrubada zero até 2030 e com isso reduzir o fenômeno e consequências das mudanças climáticas”, complementou a pesquisadora do Imazon.
Março foi o 12º mês consecutivo com queda na perda florestal, apresentando 124 km², uma diminuição de 64% em relação ao mesmo período de 2023. É preciso continuar com as ações de combate do desmatamento na região, focando principalmente nos territórios protegidos e nas áreas de intensa pressão”, destacou Amorim.
Amazonas, Mato Grosso e Roraima foram os que mais desmataram no terceiro mês do ano: respectivamente 28%, 26% e 25%, representando 79% da devastação em toda a Amazônia Legal, o que representa 98 km², área semelhante à cidade de Vitória, capital do Espírito Santo.
Na quarta posição no ranking dos estados com maior perda florestal em março de 2024, o Pará, entretanto, concentra cinco das dez unidades de conservação mais desmatadas no mês: APA do Tapajós, APA Triunfo do Xingu, Flona de Saracá-Taquera, Flona Jamanxim e Floresta Estadual do Paru. Juntas elas somam 6,3 km² de derrubada, o que corresponde a 630 campos de futebol.
Esse dado alerta para a pressão que as unidades de conservação sofrem, mesmo sendo protegidas por lei, onde dependendo do tipo de categoria o desmatamento é proibido ou restrito. A APA Triunfo do Xingu, por exemplo, segue consecutivamente desde agosto de 2020 na lista dos dez territórios com maior derrubada nesta categoria.