Por Rui Xavier, Facebook –
O desmonte de importantes conquistas dos brasileiros não está acontecendo só no atacado, ou seja, no plano federal. De vez em quando, aparece aqui e ali alguém destruindo coisas que nos são muito caras e estão ajudando a tornar o Brasil um país pior. É o que está ocorrendo no Centro de Pesquisa e Documentação da História Contemporânea do Brasil (CPDOC), da conceituada Fundação Getúlio Vargas.
Quem faz a denúncia são mais de 2.200 pessoas que firmaram um abaixo assinado intitulado “Contra a destruição do CPDOC: pela readmissão de Luciana Heymann e Dulce Pandolfi”.
Elas são duas das professoras/pesquisadoras mais conhecidas e identificadas com a instituição, que deram grande contribuição para que o CPDOC seja considerado um dos mais importantes centros de pesquisa histórica da América Latina.
A alegação para as demissões é a falta de recursos. Mas é fácil concluir que existe alguma coisa esquisita nessas demissões, basta olhar os nomes que estão firmados na petição pública, especialmente aqueles do mundo acadêmico. Eis alguns exemplos: Otavio Velho e José Sergio Leite Lopes (ambos do Museu Nacional), Luís Eduardo Sores, Silke Weber, Joana Pedro (atual presidente da ANPUH), Rodrigo Motta (ex-presidente da ANPUH), Gustavo Luís Ribeiro (ex-presidente da ANPOCS), José Ricardo Ramalho (ex-presidente da ANPOCS), James Green (historiador, EUA), Kenneth Sebirn (historiador, EUA), Ênio Candotti (da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência). Além desses, outros dois importantes exemplos: Celina Vagas do Amaral Peixoto, neta do presidente Getúlio Vargas, fundadora do CPDOC e sua primeira diretora, Aspasia Camargo, a segunda diretora da instituição.
A professora Dulce Pandolfi, há quatro anos, prestou valiosa contribuição para que a instituição não continuasse degradando sua imagem pública. Ela foi pivô de uma disputa com a direção da época (que, aliás é a mesma de hoje). Naquele ano foi demitida pouco antes de ter completado 65 anos, como determinava a norma interna no CPDOC de afastar qualquer pesquisador(a) quando chegasse a essa idade. Isso provocou protestos tão fortes da área acadêmica que a diretoria da instituição foi obrigada a readmiti-la, pondo um fim nessa norma retrógrada e, para usar um termo bem grosseiro, burra. Quando esse princípio ainda vigorava, a instituição fez outras vítimas que o mundo acadêmico coloca no grupo das mais competentes pesquisadoras da história contemporânea do Brasil, como, as historiadoras Ângela Maria de Castro Gomes e Marly Motta, além da socióloga Maria Lippi Oliveira.
O professor visitante de gerontologia da USP, Jorge Félix (um dos autores do livro “Política nacional do idoso – velhas e novas questões” achou estranho quando soube que esse princípio já vigorou em tão afamada instituição. Segundo ele, “não existe nenhuma pesquisa que consiga relacionar a idade e a produtividade das pessoas”. E dá um exemplo que ele conhece bem, seu respeitado ex-professor de sociologia, Luiz Eduardo Wanderley, ex-reitor da PUC/SP que exerce, com competência, a docência até hoje, a despeito de ter mais de 80 anos.
O que é mais triste em toda essa história é assistir a FGV permitir que o CPDOC, um dos seus mais famosos departamentos, vá se apequenando por desprezar o que ele deveria defender a todo custo – o seu ativo intelectual, representado por pesquisadores e pesquisadoras que passaram a vida estudando a nossa história.