Deu ruim

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Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, especial para o Bem Blogado

Já nem tão discretamente, avolumam-se as notícias de quebra das expectativas, por parte de quem defendeu o golpe debaixo da capa falsa do argumento de que a saída de Dilma era a senha para a saída da recessão. A coisa não está andando.




Já não se fala de um crescimento do PIB de 2% para 2017. O chute já está pela metade, para quem usa lente otimista. Alguns porta-vozes insuspeitos do Deus mercado já apostam em crescimento zero. Foi rápido o naufrágio do otimismo. Quase igual ao desabamento do prognóstico que apontava um balanço trimestral da Petrobras que provaria a recuperação espantosa da estatal mais relevante do País. Os números foram cruéis para os vendedores de ilusão. A nova gestão, dos “craques em mercado”, foi signatária de um amontado de cifras espantosamente ruins. O que fora vendido como promessa de lucro revelou-se, na entrega, um portentoso prejuízo.

Os indicadores econômicos já disponíveis para o final do ano também apontam para a desmoralização dos que queriam legitimar o golpe como uma necessidade para melhorar a Economia. As desculpas para o fiasco do embuste já entram no campo da desfaçatez. A mais recente, uma vacina contra o que vem de ruim por aí, é a que “culpa” a eleição de Donald Trump nos EUA como um fator relevante para explicar o que está dando errado. Nossos cínicos, porém, esqueceram de combinar como calendário. Trump ganhou na semana passada e os números ruins já estão sendo construídos há meses.

A constatação do desastre não deve ser motivo de alegria. Mais do que nunca, serão os pobres que pagarão a conta do estelionato criado pelos mercadores de ilusão. O fracasso da política econômica neoliberal deve, paradoxalmente, reforçar o discurso sobre inevitabilidade  de reformas antipopulares como as previdenciária e trabalhista, por exemplo.

E o estreitamento da margem de manobra para os “geniais” gestores econômicos vai aguçar o sentido de urgência, dado que taxar os mais ricos é impensável, de cortar mais e mais o que for possível de áreas e programas sociais.

O que está claro, para quem ainda se iludia que o problema brasileiro era a “falta de confiança” no governo Dilma, é que a receita de ajuste fiscal em cima dos necessitados de Estado está errada. É a continuação de um equívoco gestado, reconheçamos, nos dias seguintes à reeleição de Dilma.

Se a Nova Matriz Econômica havia se esgotado, como de fato ocorreu, o remédio era e é pior. Joaquim Levy desbravou num governo legítimo a trilha infeliz aprofundada por Meirelles atualmente em gestão nascida de um golpe.

E agora? O que fazer, como inquiriu certa vez um personagem histórico? O cerco em cima de direitos está montado e será apertado mais, mesmo ou talvez pela inevitabilidade do quadro ruim que vive o Brasil. Pior, a fraude é chancelada pelo Judiciário. Desde a presidente do STF até ministros daquela Corte o que se lê e ouve é o endosso das teses de chacina social.

O ministro Barroso, até pouco tempo uma reserva quase solitária de esperança civilizatória no STF, deu uma espantosa entrevista na edição de hoje (segunda-feira, 14) da Folha defendendo a PEC 241. Talvez ainda existam juízes em Berlin. Já em Brasília… Mas a História não acabou, por mais que alguns setores de esquerda se esforcem para referendar a teoria do jogo jogado.

O quadro político está muito confuso. A tentativa de anistiar o caixa 2, lamentável e equivocadamente endossada por alas relevantes da esquerda parlamentar, é uma prova de que ninguém consegue ter certeza sobre o que vai ocorrer. Por mais que Judiciário e mídia tentem minimizar o risco, o fato é que o país vai aprofundar nos próximos meses a confrontação social, agora com seus efeitos expostos no cotidiano das pessoas, particularmente em quem terá seus direitos ameaçados de extinção.

De toda tragédia atual brasileira, é possível extrair-se que a situação é inegavelmente ruim para a esquerda, fragmentada e sem rumo, perdida mesmo com a avassaladora derrota eleitoral nas eleições municipais. Mas é possível antever que a implementação de uma política econômica antipopular não se dará sem problemas, muitos, para os que chegaram ao Poder sem a chancela da urna.

Se a esquerda superar o luto e a falta de rumo, se conseguir entender que é necessário repensar formas tradicionais de luta num mundo em que emprego é e será cada vez mais escasso, se…. Talvez a soma de muitos “se” inviabilize uma formula partidária para o combate ao chicote social, mas como recitavam velhos comunas as condições objetivas para o enfrentamento serão dadas em algum momento. O mercado já começou a mostrar que não conseguirá entregar a mercadoria que prometeu a patrocinadores e incautos.

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