Por Luiz Antonio Simas, no Facebook –
1- Antes da anunciação da Umbanda pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, vários cultos baseados no transe de possessão por espíritos ancestrais, cruzados com elementos da magia ibero-judaica, o culto aos santos católicos e ritos de cura afro-indígena, já ocorriam no Brasil.
2- A Umbanda, em suma, é filha do amálgama dos ritos de ancestralidade dos bantos, dos calundus, pajelanças, catimbós, encantarias, cabocladas e afins. As magias mouriscas e judaicas entram aí. Neste sentido, prefiro ver a formação da umbanda como um processo, no qual está inserida a anunciação de Zélio.
3- Há os que criticam a Umbanda como coisa do capeta. Outros, dotados de um purismo a-histórico, criticam o sincretismo (como se alguma religião não fosse sincrética e todo contato humano não implicasse em cruzo, circularidade , troca de informações, mesmo que não intencionais).
4- Enxergo o sincretismo sob outro prisma: não como capitulação ao outro, mas como acréscimo de força vital. Não há novidade nisso.
5- A capacidade de se apropriar de deuses e objetos alheios, e interpretá-los segundo valores locais, em determinadas conjunturas, dando a estes deuses e seus ritos novos significados e representações, é um traço distintivo da potência de diversas crenças africanas e indígenas.
6- Acho que cada vez mais o problema para as religiosidades afro-brasileiras-indígenas não é só o da intolerância dos que professam outras crenças e não reconhecem a alteridade nem na esfera do respeito discordante (certamente é o mais sério).
7- Há também a dimensão dos que toleram, e até respeitam ou flertam com certo “caráter cult e alternativo” do babado, mas não conseguem reconhecer esses saberes como sofisticados e descortinadores de mundos.
·8- Não me defino como umbandista ou candomblecista. Sou macumbeiro do Brasil, definição brincante e política, que subverte sentidos preconceituosos atribuídos ao termo e admite as contradições e rasuras das maneiras encantadas de se ler o mundo no alargamento de gramáticas.
9- Não me interessa o respeito pelas crenças oprimidas que vem permeado pelo discurso de romantização do popular. Me interessa que sejam reconhecidas a sofisticação, o manancial para a elaboração de conceitos e o requinte estético desses saberes.
10 – Macumba é um campo sofisticado de libertação do pensamento brasileiro – que precisa ser ousadamente afro-indígena – e de vigor político e poético de percepção dos mundos. Saravá!