Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, para o Bem Blogado –
Depois de meses de marasmo, principalmente para o campo progressista, o Brasil voltou a ter discussão política e, melhor ainda, a rua entrou no jogo. A grandiosa manifestação pela defesa da Educação no dia 15 rompeu o nó. Os fascistas responderam na Paulista, em menor número que os opositores, e dia 30 estudantes, educadores e movimentos sociais trucaram os admiradores de Bozo. Tudo muito bom e legítimo, mas o campeonato será decidido em 14 de junho, quando as centrais sindicais marcaram uma greve geral contra as mudanças na aposentadoria que o mercado e seus miquinhos amestrados no governo e na grande mídia querem impor à população, principalmente a mais pobre.
Desde sempre, a questão da Previdência está colocada como a mais importante das batalhas para os dois campos políticos. E a hora crucial chegou. Não nos iludamos, se o campo popular não conseguir viabilizar uma ampla mobilização, o assalto às aposentadorias será referendado no Congresso.
Seria muita ingenuidade acreditar que parlamentares como os do Centrão terão coragem de desobedecer seus financiadores na hora de votar a proposta de Paulo Guedes.
A oposição, numericamente inferiorizada, a se manter o quadro atual, pouco coisa objetiva poderá fazer, apesar do empenho de seus deputados.E a grande mídia há meses martela todo dia a chantagem da “reforma ou caos”.
A situação não é fácil para quem defende os interesses populares. A desproporção de armas na batalha pelo convencimento da opinião pública é maior até, pela unidade que o tema desperta entre extrema-direita, direita e centro, do que a que vitimou a Democracia na última eleição presidencial.
Furar o bloqueio rígido imposto pela criminosa participação da imprensa hegemônica na disputa de classes é tarefa dificílima, mas não resta outra saída para a classe trabalhadora.
Fazer uma greve geral em país com o tamanho do Brasil e com o cerco imposto pela força do capital é o desafio. Se a paralisação for exitosa, crescem as chances de ao menos esfacelar boa parte das maldades que a tal reforma pretende fazer.
A eliminação total do projeto, sejamos politicamente realistas, só seria, ou será, possível se ocorrer uma súbita e infelizmente improvável alteração na correlação de forças. Mas uma greve bem sucedida, que consiga alertar os desavisados sobre a chacina social almejada, pode sim forçar recuos na base direitista.
Ratos se assustam com rua e greve.
Não há mais caminho de negociação no jogo político brasileiro. A vassalagem vergonhosa de Dias Toffoli, presidente do STF, a Bolsonaro encerra qualquer ilusão que uma velhinha de Taubaté ainda alimentasse sobre valores republicanos.
O Brasil vive um tsunami que varre qualquer princípio básico da Democracia, mesmo aquela dita burguesa. O Judiciário acocorado, desavergonhado na servidão ao poder econômico, autoriza aos pobres o direito à radicalização possível. Maior radicalização, aliás, não há do que o esbulho que se pretende fazer nos direitos previdenciários.
A greve do dia 14 é, assim, o início do derradeiro combate por um país que resista à aliança do fascismo político com os exploradores dos trabalhadores.
Estudantes e professores já desfizeram o nó e abriram as ruas para o campo democrático e popular. É hora agora de reunir partidos, sindicatos, organizações sociais e tudo o mais na organização da greve geral do dia 14. Haverá muita fake news na mídia hegemônica contra o ato dos trabalhadores.
O caminho é organizar e resistir para que o movimento paredista delimite a disputa pelas Previdência no antes e depois da greve geral. Se passar essa loucura de arrecadar um trilhão de reais às custas dos mais pobres, será muito difícil reconstruir o Brasil mesmo depois da saída de Bolsonaro.
O direito sagrado a uma aposentadoria minimamente decente em país já tão injusto é talvez a causa mais nobre para as esquerdas. E essa luta passa principalmente pelo 14 de julho. Sem arrego e sem desânimo.
A bola que decide o campeonato trafega pela capacidade de avançar do campo popular.
Ao campo!