Diálogo sobre estratégia de Bolsonaro na pandemia: a solução final

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Diálogo
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Enio Squeff, jornalista, escritor, artista plástico
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– Ouça, meu amigo, dizem que o governo teria partido para uma espécie de “solução final” (sim, aquela que os nazistas inventaram para assassinar judeus na Segunda Guerra).  Acho que é isso mesmo, só que, em vez de câmaras de gás, aqui o governo usa o Covid-19. Ele apareceu como matador de velhos. É aproveitá-lo. Uma questão de administração das contas públicas: é preciso eliminar os velhos para economizar com a Previdência Social. Aliás há uma matéria do jornal espanhol “El País” que comprova o que estou dizendo.
– Isso, sinceramente me parece mais um conto fantástico, do que verdade.
– Parece, mas você tem que admitir, que tudo se encaixa: como explicar o negativismo espalhado inclusive entre as Forças Armadas?
– Sim, mas não se esqueça de que há pouco, as tais Forças Armadas perderam um general do Exército por coronavírus.
– É verdade, sempre há baixas. Mas há um outro, também da ativa, que está no Ministério da Saúde – um general da intendência, que, segundo dizem, é um sujeito competentíssimo. Não em saúde, admito, mas em logística. Ouvi dizer que se houver uma guerra do Brasil contra a Venezuela, ele já está se preparando. Tenho por fontes seguras que ele já enviou muitas armas para Santa Maria.
– Mas Santa Maria fica no Rio Grande do Sul e a Venezuela fica no norte do Brasil. E ele se nega a comprar vacinas, não dando a mínima para a demanda por parte da população, em que se contam até mesmo bolsonaristas. É claro que o governo está esticando a corda. Você não nota que quanto mais mortes, tanto mais o capitão comemora com seus apoiadores?
– Não sei muito de comemorações, já que sou meio contra a política, mesmo assim acho que essa história, de “solução final” cheira a teoria da conspiração. Ela seria tão surrealista, que a matéria do “El Pais” tentando provar mais ou menos isso de que você fala, a expressão “solução final”, não é usada uma única vez.
– É verdade, mas a matéria é feita a partir de estudos de especialistas, gente séria. E nela o jornal prova, por A mais B, que a esculhambação toda que aí está, isso de se comprar e de não se comprar vacina, tem a ver com uma ação coordenada pelo governo, para completar a vitória do Covid-19. É Darwin, só sobrarão os mais fortes. E isso tem um nome sim: é “solução final”.
– Não nego que nem tudo tá dando certo, mas acho que essa história de “solução final”, tem mais a ver com ficção científica, conto de terror, do que qualquer outra verdade. Mas é no que você acredita, não?
– Sim, mas por que o presidente insiste em confirmá-la, ao pregar, em palestras e entrevistas o fim das medidas sanitárias, como o uso de máscaras, promovendo aglomerações e se colocando contra o isolamento social? Note-se – e isto o jornal espanhol insiste – não assusta ao ex-capitão a cifra de quase 250 mil mortos, ou 300 mil daqui a pouco. Pois. E olha que quando ele despreza as mortes, mesmo assim, ou por isso mesmo arranca aplausos de seus seguidores. Muitos talvez já infectados.
– .Concordo, mas, apesar disso, a teoria da “solução final” me parece fantasiosa. Ainda que ultrapassemos nosso modelo, os Estados Unidos – aquele que talvez chegue meio milhão de mortos daqui a pouco, não por culpa do Trump diga-se – não seria uma loucura, o governo matando seu próprio povo? E as Forças Armadas, quando é que elas entram na história?
– Justamente aí. Ou você pensa que o ex-capitão, expulso do Forças Armadas, não quer vingança, desmoralizando-as ao associá-las a seu governo?
– Não, não pode ser verdade. Isso supõe a participação direta dos oficiais brasileiros com o morticínio: nunca seriam ignorantes a ponto de…
– Não, não seriam ignorantes, mas apenas táticos. Como homens de guerra, eles concluiriam que é melhor matar velhos brasileiros, principalmente esses, do que quebrar, por exemplo, a Previdência Social. São profissionais e obedecem ordens. Optaram pela manutenção do sistema.
É um conflito contra a China, que quer quebrar o Brasil. E neste caso, eles escolheram a eliminação de quem não produz. Os velhos, os improdutivos (estou nessa) não podem impedir, digamos, o ministro Guedes de prosseguir com a sua política neoliberal. E não esqueça que as Forças Armadas hoje estão inseridas na economia. Trocaram o princípio do nacionalismo, pelo neoliberalismo.
Perdoem-me, pois, os idealistas, mas é assim nas guerras. Os Altos Comandos de ambos os lados de um conflito, calculam quantas perdas terão. E, uma vez dada as ordens, não importa se morram milhares. No caso brasileiro, porém, há que se manter a economia como, por exemplo, volto a insistir, a Previdência livre de custos.
Explicando melhor: segundo o estudo de alguém, que não eu não sei se pegou as cifras corretas, mas só com o desaparecimento desses milhares de velhos e velhas, a nossa sempre endividada Previdência Social já teria economizado algo em torno de um bilhão de reais. Isso é o que vale hoje em dia, e o Exército sabe muito bem do que se trata: é grana, meu caro, não vidas improdutivas.
Pois se o governo e os militares vencerem essa batalha contra os estragos da Previdência, não haverá mais rombo nesta mesma Previdência. Nem rombo, nem roubos.
Para não ser elusivo: com 250 ou 300 mil mortos (num cálculo um pouco moderado, reconheço), os maiores inimigos do Brasil, que é Previdência quebrada, os gastos com a saúde, consultas, a compra abusiva de remédios e de equipamentos, essas coisas que todos sabemos onerosas para o Estado – este grande vilão sairá derrotado – falo principalmente das mortes dos velhos.
Precisamos de gente que crie riquezas. Ao contrário portanto do que diz esse jornal espanhol, não haveria qualquer coisa parecida com a tal de “solução final”. Serão algumas centenas de milhares de mortos, é verdade, mas entre os 70% da população que não trabalha, vagabundos como dizia o presidente Fernando Henrique.
E, mais que tudo, talvez se possa incluir aí os desempregados, outros que não trabalham por pura malandragem: qual o problema de serem eliminados? Nenhum: menos ônus para as contas públicas. O presidente, as Forças Armadas, as classes produtivas brasileiras em suma, todos sabem muito bem que tudo isso pode acabar de um dia para o outro.
Logo, quanto mais se prorrogar a vacinação, melhor para os dividendos a fim de continuar com os gastos sob controle. Não, e não, me desculpe, mas os jornais e o contingente nunca menor, infelizmente, de alarmistas, não há comparação possível entre a nossa situação e a“solução final” de Auschwitz e Buchenwald. Aqui contamos com técnicos responsáveis e patriotas.
– Note que uma dessas técnicas, aliás uma assessora do Paulo Guedes, disse com todas as letras que quantos mais velhos morrerem, menos despesas para a Previdência…
– Sim sim, admito isso, mas, definitivamente, expressões como essa de “solução final” não correspondem à verdade. Não foi por isso que as Forças Armadas emprestaram um de seus mais brilhantes generais para ser ministro da Saúde. Aliás, como é que você consegue acreditar numa coisas dessas?
– Tenho uma frase latina que serve à feição a sua pergunta: “Credo quia absurdum” – “acredito porque é absurdo”, só isso.

 

El País: Pesquisa revela que Bolsonaro executou uma “estratégia institucional de propagação do coronavírus”

Ao analisar 3.049 normas federais produzidas em 2020, a Faculdade de Saúde Pública da USP e a Conectas Direitos Humanos mostram por que o Brasil já superou mais de 212.000 mortes por covid-19

https://brasil.elpais.com/brasil/2021-01-21/pesquisa-revela-que-bolsonaro-executou-uma-estrategia-institucional-de-propagacao-do-virus.html




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