Sou favorável à ocupação das ruas pela esquerda porque não podemos seguir enfrentando só nas redes sociais os números aterradores do maior desastre sanitário da história do país. Já são mais de 450 mil mortos e um sem número de sequelados. O aumento de novos casos e de vítimas fatais da covid, especialmente em São Paulo, indica, segundo os infectologistas, que uma terceira onda se aproxima.
Abre parênteses: é perfeitamente possível seguir um protocolo rígido nas nossas manifestações e marcar profundas diferenças com os atos dos fascistas. Para isso, o uso de máscaras, álcool em gel e o mínimo de distanciamento, além de requisitos inegociáveis em termos de saúde, assumem importância política central para nós. Fecha parênteses.
Estarei na rua no dia 29 para exigir vacina para todos e protestar contra o presidente genocida, que jamais demonstrou qualquer empatia ou expressou solidariedade aos doentes e aos familiares dos que perderam a vida. Bolsonaro, em vez de visitar hospitais, promove micaretas para comemorar a tragédia; em vez de ocupar a cadeia nacional de rádio e TV, para recomendar o uso de máscaras e o distanciamento, debocha dos que não resistiram ao vírus.
A minha presença no Monumento a Zumbi dos Palmares, local da concentração no Rio de Janeiro, está confirmada no sábado porque não suporto mais acompanhar entre quatro paredes as rotineiras investidas de Bolsonaro contra a democracia e o estado de direito democrático. A tibieza das respostas das instituições até agora faz com que a ameaça de ruptura da ordem constitucional ganhe contornos cada vez mais graves.
A camisa vermelha já está pronta para ser usada porque, para além de enfrentar a gestão criminosa de saúde do governo federal, cujas vísceras estão sendo revolvidas pela CPI, precisamos radicalizar no combate à epidemia da fome que assola milhões de seres humanos em nosso país. Enquanto o desemprego e a precarização do trabalho batem recordes, o governo insiste com as privatizações irresponsáveis e põe os direitos do servidor público na alça de mira.
Embora a clausura para evitar a propagação do vírus seja uma decisão acertada e pautada pela ciência, o crescente sofrimento do povo leva à necessidade de quebrá-la pontualmente em nome da luta para evitar a destruição do Brasil como nação. A aglomeração controlada nesta situação excepcional não significa de forma alguma que as recomendações da ciência devam ser abandonadas.
Há outro aspecto relevante que merece atenção neste debate: o aumento da distância política e social entre a classe média intelectualizada, que teve o privilégio de fazer home oficce, e o povão, a quem não resta alternativa que não seja se espremer nos transportes públicos para chegar ao trabalho.
Gente respeitável tem apresentado bons argumentos contrários à retomada dos protestos de rua. Contudo, não posso esquecer o peso decisivo das enormes mobilizações da população dos EUA, por ocasião do assassinato de George Floyd, para acuar Trump e ajudar a preparar o terreno para sua derrota meses depois.
Isso em plena pandemia.