Diário da Covid-19: América do Sul é o novo epicentro da pandemia

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Por José Eustáquio Diniz Alves, compartilhado de Projeto Colabora – 

Continente registrou 32,3 mil casos diários, representando 31,6% do total mundial e 1,4 mil óbitos ou 27,1% das vidas perdidas para a doença no planeta em 24 horas

Funcionário de um shopping em Brasília checa a temperatura dos clientes no primeiro dia de funcionamento do comércio na cidade. Foto Evaristo Sá/AFP

O mundo tomou conhecimento da covid-19 quando a China se tornou o epicentro da pandemia, no mês de janeiro de 2020. Nos dois primeiros meses do ano, o avanço exponencial do novo coronavírus ocorreu fundamentalmente na Ásia, com destaque para China, Coreia do Sul, Irã e Japão. Na primeira quinzena de março, o epicentro se deslocou para a Europa, principalmente na Itália, na Espanha, na França e na Alemanha. Na segunda quinzena de março os destaques foram os Estados Unidos (EUA) e o Reino Unido. No mês de abril o coronavírus se propagou rapidamente na Europa e na América do Norte e, praticamente, ocupou todas as áreas habitadas do planeta, chegando a mais de 210 países e territórios.




A tabela abaixo mostra que no dia 10 de março de 2020 havia apenas 7 países com mais de 1 mil pessoas infectadas, sendo 2 países (China e Itália) com mais de 10 mil casos e 5 países (Irã, Coreia do Sul, França, Espanha e Alemanha) entre 1 mil e 10 mil. No dia 01 de abril já havia 50 países com mais de 1 mil casos, sendo que EUA, Itália e Espanha com mais de 100 mil casos. No dia 01 de maio já eram 88 países com mais de 1 mil casos, sendo 8 com mais de 100 mil, 29 entre 10 e 100 mil e 51 entre 1 e 10 mil casos. Nesta data, os EUA já tinham superado 1 milhão de casos. Ontem, 27/05, já eram 112 países com mais de 1 mil casos, sendo 12 com mais de 100 mil, 38 entre 10 e 100 mil e 62 países entre 1 e 10 mil casos.

Portanto, o coronavírus se espalhou pelo mundo e se avolumou internamente nos países e nos continentes. Mas no mês de maio, especialmente, na segunda quinzena, o eixo da pandemia se deslocou para a América do Sul. A tabela abaixo mostra que, no dia 27/05, a América do Sul (com 5,5% da população mundial), registrou 32,3 mil casos diários, representando 31,6% do total mundial e registrou 1,4 mil óbitos, representando 27,1% do total mundial.

O número de novos casos na América do Sul ultrapassou não só a América do Norte (que inclui a América Central e Caribe), mas foi maior também do que a soma dos casos da Ásia, da África e da Oceania. Portanto, a América do Sul (com 5,5% da população global) ficou à frente de 3 continentes que somam 77% da população global. Quanto aos óbitos, a América do Sul também ficou bem à frente dos 3 continentes. Ficou à frente também da Europa e só teve menos óbitos diários do que a América do Norte.

Assim, não resta dúvida de que a América do Sul virou o novo epicentro da pandemia global, pois é o continente que mais contribui com novos casos e novos óbitos, proporcionalmente ao tamanho demográfico. Mas, dentro da América do Sul, o destaque é o Brasil que tem 2,7% da população mundial, mas responde por 20% dos casos e 21% dos óbitos globais. Os outros países da América do Sul que se destacam são Peru, Chile, Equador, Colômbia e Argentina.

Manifestantes protestam contra o governo do presidente chileno, Sebastian Pinera, em meio à pandemia da covid-19. Foto Martin Bernetti/AFP
Manifestantes protestam contra o governo do presidente chileno, Sebastian Pinera, em meio à pandemia da covid-19. Foto Martin Bernetti/AFP

Os gráficos abaixo, com base em material do jornal Financial Times, mostram o número de casos acumulados e de óbitos acumulados dos 6 países da América do Sul que se destacam na expansão da pandemia no continente. O gráfico está em escala logarítmica e a inclinação das curvas mostra a velocidade da expansão. Em termos de número acumulado de casos, depois do Brasil a ordem decrescente é de Peru, Chile, Equador, Colômbia e Argentina. Em termos de número acumulado de óbitos, depois do Brasil a ordem decrescente é de Peru, Equador, Chile, Colômbia e Argentina.

Não custa repetir que quanto maior for a dimensão da pandemia do novo coronavírus na América do Sul, maiores serão os impactos negativos da pandemia, pois como mostrou a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) a crise sanitária pegou o continente em um momento de debilidade macroeconômica, baixo crescimento e aumento da pobreza e do desemprego. Tanto a Cepal, quanto o Fundo Monetário Internacional estimam uma recessão com queda do PIB acima de 5% no corrente ano.

Indubitavelmente, as dificuldades econômicas serão maiores para os países que perderem a batalha para o novo coronavírus. Assim, os 6 países que se destacam na expansão da pandemia no continente serão os países que mais sofrerão com a recessão econômica. O Brasil que acumula as crises sanitária, econômica e política será particularmente afetado.

Já o Paraguai e o Uruguai, que conseguiram evitar a explosão do contágio comunitário do vírus, poderão retomar mais cedo e com mais força as atividades de produção e consumo de bens e serviços

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