Diário da Covid-19: Brasil segue escalada para ser o segundo mais afetado pela doença

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Por José Eustáquio Diniz Alves, compartilhado de Projeto Colabora – 

País já tem a maior taxa de contágio do mundo. São Paulo, Rio, Ceará, Pernambuco e Amazonas são estados mais atingidos

Em Taiwan, alunos almoçam em mesas com divisórias plásticas como medida preventiva para conter a disseminação da covid-19. Foto Sam Yeh/AFP

Começando com uma notícia auspiciosa: o mundo chegou hoje (dia 30/04) à marca de 1 milhão de pessoas recuperadas e, globalmente, o ritmo da pandemia está diminuindo. Pesquisadores da Universidade de Singapura já preveem o fim da pandemia, com 97%, no dia 30 de maio e com 99% no dia 16 de junho. Por outro lado, o Brasil continua sua escalada rumo ao segundo lugar no triste ranking global dos países mais afetados pela pandemia. Na quarta-feira (29/04) o número de novos casos só cresceu menos do que nos EUA. O Brasil já tem a maior taxa de contágio do mundo. Na terça-feira, passou a China em número de mortes e, na sexta-feira (dia do Trabalhador) deve ultrapassar a China em número de casos. O surto no Brasil continua mantendo uma velocidade de crescimento superior à média mundial, podendo atingir o 6º lugar no número de mortes na semana que vem. Os estados de São Paulo e Rio de Janeiro continuam apresentando um crescimento significativo, mas Ceará, Pernambuco e Amazonas são os que mais preocupam, enquanto Minas Gerais é o estado com menores taxas.




O panorama nacional e global

O Ministério da Saúde divulgou os números da pandemia do coronavírus, na tarde da quarta-feira, dia 29 de abril de 2020, e o volume de pessoas infectadas atingiu 78.162 casos, o número de vítimas fatais chegou a 5.466 óbitos, com uma taxa de letalidade de 7%.

A variação diária do número de pessoas infectadas foi recorde absoluto, com 6.276 novos casos (a segunda maior variação diária do mundo, atrás apenas dos EUA) e a variação absoluta de mortes atingiu o segundo maior valor diário, chegando a 449 óbitos (a quarta maior variação diária global, atrás apenas dos EUA, Reino Unido e Espanha).

O gráfico abaixo mostra a evolução do número de casos da covid-19 nos meses de março e abril (até 29/04) para o Brasil e seis Unidades da Federação, sendo que entre parênteses estão as taxas diárias de crescimento entre os dias 01 e 29 de abril.

Nota-se que os casos cresceram no Brasil a 9,1% ao dia, sendo que Minas Gerais teve a menor taxa de crescimento (6,4% ao dia) e Pernambuco a maior taxa (16,1% ao dia). São Paulo e Rio de Janeiro cresceram entre 8 e 9% ao dia, enquanto Ceará e Amazonas cresceram acima de 10% ao dia. São todas taxas muito elevadas quando comparadas com a média global.

O gráfico abaixo mostra a evolução do número de mortes da covid-19 entre 17 de março e 29 de abril para o Brasil e as mesmas seis Unidades da Federação, sendo que entre parênteses estão as taxas diárias de crescimento do número de óbitos entre os dias 01 e 29 de abril. Nota-se que as mortes no Brasil cresceram mais rápido do que os casos, apresentando um ritmo de 11,8% ao dia. O estado de São Paulo teve a menor taxa de crescimento das mortes no período (9,8% ao dia) e o Amazonas as maiores taxas, impressionantes 18,9% ao dia. Minas Gerais e Rio de Janeiro cresceram na casa dos 12% ao dia, enquanto Ceará e Pernambuco cresceram a taxas elevadíssimas acima de 15% ao dia.

A tabela abaixo mostra a população brasileira, em 2020, com 211,7 milhões de habitantes (segundo projeção do IBGE), com 78,2 mil casos da covid-19 no dia 29/04, com coeficiente de incidência de 369 por milhão de habitante e 5,5 mil mortes (em 29/04), com coeficiente de mortalidade de 26 por milhão de habitante. Já a população mundial de 7,79 bilhões de habitantes (segundo a Divisão de População da ONU para 2020), tinha 3,2 milhões de casos com coeficiente de incidência de 413 casos por milhão e 228 mil mortes, com coeficiente de mortalidade de 29 por milhão. Portanto, o Brasil teve coeficientes menores do que a média mundial.

Assim, como a pandemia no Brasil cresce em ritmo mais rápido do que a média mundial, os coeficientes brasileiros devem superar os coeficientes globais em pouco tempo. Quando se analisa as Unidades da Federação, nota-se que Minas Gerais possui os menores coeficientes, sendo 83 casos por milhão de habitantes e 4 óbitos por milhão. Já o Amazonas possui os maiores coeficientes com 1.141 casos por milhão e 90 óbitos por milhão de habitantes. São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e Ceará também possuem coeficientes acima da média mundial.

A pandemia nos países nórdicos

A tabela abaixo mostra a evolução do número de casos e do número de mortes na Suécia, Dinamarca, Noruega e Finlândia. Em todos estes países o pior já passou e os 4 países já estão descendo a curva. Existe uma grande polêmica sobre o caso da Suécia que não adotou nem o “lockdown” e nem o isolamento social horizontal e universal. O país manteve boa parte das atividades econômica em funcionamento, embora tenha tomado diversas medidas de prevenção e tenha feito testes em massa para conhecer o quadro de contágio no país.

O fato é que os dados dos gráficos indicam que a Suécia teve o pior desempenho entre os países nórdicos e a Finlândia teve o melhor desempenho. No dia 29/04, a Suécia tinha 2 mil casos por milhão de habitantes e 244 óbitos por milhão de habitantes. A Dinamarca tinha 1,555 casos por milhão e 76 mortes por milhão. A Noruega 1,4 mil casos por milhão e 38 mortes por milhão. E a Finlândia, com os menores números, tinha 885 casos por milhão e somente 37 óbitos por milhão.

Quando meus olhos estão sujos da civilização, cresce por dentro deles um desejo de árvores e pássaros

Manoel de Barros (1916-2014)
Poeta

A pandemia e a modelagem estatística da Universidade de Singapura

A Universidade de Singapura (US), por meio do laboratório de tecnologia e design (SUTD), elaborou uma metodologia estatística para monitorar o número de casos da covid-19 no mundo e em todos os países da comunidade internacional. O modelo SIR (suscetível infectado-recuperado) estima as curvas do ciclo de vida da pandemia e prevê quando a pandemia pode terminar nos respectivos países e no mundo.

Nos gráficos abaixo, fiz uma comparação entre o modelo que tenho usado neste diário (polinomial de terceiro grau) com o modelo da Universidade de Singapura (US). Nota-se que para o mundo, os dois modelos são parecidos, pois consideram que o mundo já chegou ao pico da pandemia e já começou a descer a curva. A US estima o final da pandemia, em 97%, no dia 30 de maio de 2020 e o fim, com 99%, no dia 16 de junho.

Para o Brasil, a US também considera que o pico já passou e o fim da pandemia está estimado, com 97%, para o dia 01 de junho de 2020 e, como 99%, para o dia 12 de junho. Contudo, o modelo polinomial de terceiro grau estima que o número de casos vai continuar aumentando, pelo menos até a semana que vem. Evidentemente, só saberemos a realidade quando os dados forem publicados na semana que vem. Vamos acompanhar!

Vale também repetir a advertência da US de que os modelos e os dados são imprecisos e não refletem totalmente a complexidade e a heterogeneidade dos países e do mundo. As previsões são incertas por natureza. As previsões devem ser interpretadas com cautela. Além do mais há muitas subnotificações que dificultam a precisão da análise.

Número de pessoas recuperadas bate recorde histórico

O dia 30 de abril começou com um recorde histórico a ser comemorado, pois, enquanto o número de pessoas infectadas chegou a 3,2 milhões e o número de fatalidades ficou em 228 mil óbitos, o volume de pessoas recuperadas chegou a 1 milhão de pessoas, como indica o site Worldometers.

Frase do dia 30 de abril de 2020

“Quando meus olhos estão sujos da civilização,

cresce por dentro deles um desejo de árvores e pássaros”

Poeta Manoel de Barros (1916-2014)

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