Por José Eustáquio Diniz Alves, compartilhado de Projeto Colabora –
País registra meio milhão de casos em sete dias e responde por 21% dos óbitos no planeta
Mais uma vez o Brasil registrou a semana mais letal da pandemia. Cada nova semana tem sido pior do que a anterior. A mesma história, praticamente, ao longo de todo o ano de 2021. Mas a semana de 28/02 a 06/03 foi a primeira a ultrapassar a casa das 10 mil mortes e a semana de 07/03 a 13/03 chegou a 12.777 óbitos (21% das mortes globais na semana). O Brasil assumiu o segundo lugar isolado tanto no número acumulado de casos, quanto no número de mortes, atrás apenas dos EUA. Nos últimos dias, reiteradamente, tem apresentado os maiores números absolutos de casos e de vítimas fatais da covid-19. Desta forma, o Brasil está no “olho do furacão” da pandemia global.
A primeira vida perdida para a covid-19, em território brasileiro, ocorreu em São Paulo, em meados de março de 2020. Um ano depois já foram sepultadas 277 mil pessoas e os cemitérios não param de enterrar os cadáveres da incúria nacional. Os países que venceram a pandemia foram aqueles que conseguiram uma sinergia entre o Poder Público e a Sociedade Civil. Mas no Brasil, os entes federados da República, as diversas instituições da sociedade e o conjunto da população, em toda a sua heterogeneidade, não conseguiram estabelecer um consenso científico, político e prático para vencer o coronavírus. Muito menos fizeram o dever de casa recomendado durante uma pandemia, que inclui montar uma barreira sanitária, testar a população em risco, rastrear e monitorar os infectados e proteger a saúde dos habitantes por meio de medidas preventivas para evitar a transmissão comunitária do vírus. A lição é simples. Mas poucas nações tiraram nota máxima nesta implacável prova. O mais incrível é que parece que o país desaprendeu ao longo do ano. Não faltaram avisos, aqui mesmo neste espaço no # Colabora, foram feitos vários alertas sobre o avanço da 2ª onda, inclusive mostrando que a situação de Manaus estava se agravando e poderia se generalizar por todo o país.
O Brasil perdeu a guerra contra o SARS-CoV-2. Embora o presidente da República tenha colocado um general do exército brasileiro no Ministério da Saúde para combater a doença, o minúsculo vírus driblou o militar e circulou livremente por todos os 5.665 municípios do país. Os milhões de reais gastos pelo exército em leite condensado, chicletes, picanha e cerveja não ajudaram na contenção da difusão do novo coronavírus. Sem dúvida, a situação seria diferente se o ministro Eduardo Pazuello tivesse aplicado os recursos nacionais na compra de testes, na mobilização dos agentes comunitários de saúde do SUS para efetivar as medidas preventivas e se tivesse contratado tempestivamente as vacinas que foram ofertadas, por diversas farmacêuticas, ao Governo Federal.
Assim, neste momento em que o Brasil passa por uma situação dramática, com cada semana sendo mais letal do que a anterior, o controle sanitário ficou bastante difícil de ser realizado de forma efetiva. O país está em grande perigo, pois o número de casos e de mortes não param de crescer e, quanto maior forem os números da transmissão e mais tempo o vírus circular livremente, maiores serão as probabilidades de surgimento de novas variantes do SARS-CoV-2, além da evolução de cepas mais contagiosas e ainda mais letais. Reinfecções e mutações resistentes às vacinas são possibilidades que podem prolongar muito o sofrimento da população brasileira, ameaçando a América do Sul e o mundo.
O momento é crítico e não há alternativas milagrosas. Como disse Beto Guedes: “A lição sabemos de cor, só nos resta aprender”. Deste modo, ou o Brasil faz o básico recomendado nos livros textos, ou vai pagar um preço inimaginável. O país como um todo está na iminência de um colapso do sistema de saúde e hospitalar. É preciso interromper imediatamente a transmissão coletiva do vírus e reduzir a morbidade covídica para evitar a mortalidade pandêmica. Como o plano de imunização carece de volumes significativos de vacinas, a única solução é o distanciamento social e o reforço de medidas preventivas como o uso de máscara, higiene das mãos, dos corpos, dos alimentos e demais fontes de transmissão. O ideal seria fazer para valer um lockdown nacional por três semanas, com controle rigoroso dentro das fronteiras, como já propôs, desde o início do ano, o neurocientista Miguel Nicolelis. Mas diante da ineficiência e da resistência do Governo Federal (e a oposição por uma parte da sociedade às tais medidas), a alternativa seria os governadores e os prefeitos adotarem quarentenas inteligentes, especialmente nos locais mais afetados pela pandemia. Evidentemente, não se trata de “Estado de sítio”, como querem fazer crer os negacionistas, mas sim, reduzir a circulação das pessoas e evitar todas as possibilidades de aglomeração e de espalhamento do vírus. Diversas batalhas já foram perdidas. Uma vitória completa e imediata contra o coronavírus no Brasil parece estar fora do radar.
As grandes cidades, aquelas com maior densidade demográfica, enfrentam os mais graves problemas. Sem embargo, ainda são possíveis vitórias localizadas, como aconteceu em Araraquara (SP) que conseguiu, mesmo que de forma parcial, reduzir o número de casos e de mortes da covid-19 após aplicar medidas firmes de prevenção e distanciamento social. Diversos governadores e prefeitos estão tomando medidas corretas para conter a pandemia. Mas poucas andorinhas não fazem o verão. Infelizmente, ainda existem pessoas, governantes e autoridades do Poder Judiciário que parecem estar “aliados” ao vírus. Desta forma, precisamos torcer para que haja consciência coletiva sobre a urgência da crise sanitária, pois, em caso de fracasso, indubitavelmente, a conta será paga por todos os brasileiros, não só na área de saúde, mas também nas áreas econômica e social.
O panorama nacional
Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil teve novamente a sua pior semana epidemiológica com números acumulados de 11.439.558 pessoas infectadas e 277.102 mil vidas perdidas, com uma taxa de letalidade de 2,4%. Foram meio milhão de casos e quase 13 mil mortes nos últimos 7 dias.
O gráfico abaixo mostra a média diária de casos nas diversas semanas epidemiológicas de 22 de março de 2020 a 13 de março de 2021. Nota-se que o número de casos subiu rapidamente de março até o pico de 45,7 mil casos diários na semana de 19 a 25/07. A partir do final de julho o número médio de casos, com algumas oscilações, caiu até o mínimo de 16,8 mil casos na primeira semana de novembro. Mas a partir daí teve início uma 2ª onda de contágio que culminou com 47,5 mil casos em meados de dezembro, houve uma breve queda nos feriados de fim de ano e uma nova marca recorde da curva epidemiológica de 54,1 mil casos diários na semana de 10 a 16 de janeiro de 2021. Nas 5 semanas seguintes houve uma pequena queda, mas as duas semanas de março bateram todos os recordes anteriores e a média diária ultrapassou 71 mil casos na semana de 07 a 13 de março.