Por José Eustáquio Diniz Alves, compartilhado de Projeto Colabora –
Número de novos casos no Brasil se estabiliza e volume de mortes começa a cair, mas flexibilização do isolamento pode provocar uma segunda onda da pandemia
O pior já passou? Esta é a pergunta que mais ouço nas últimas semanas. Tem sido triste responder negativamente. Evidentemente, não é minha vontade evitar boas notícias. Apenas tento traduzir o que a análise estatística dos dados evidencia. Como fazemos todos os domingos, apresentamos um balanço da evolução do número de casos e de óbitos nas semanas epidemiológicas no Brasil e comparamos com a evolução da pandemia no mundo. Pois bem, o que os números indicavam desde a 16ª Semana Epidemiológica (SE de 12 a 18 de abril) era que os valores absolutos estavam aumentando rapidamente e os valores relativos estavam diminuindo lentamente, de tal forma, que o ritmo da pandemia no Brasil estava se acelerando em relação ao resto do mundo.
A diferença entre o Brasil e a média dos demais países aumentou até a 21ª SE (17 a 23) de maio. Na semana seguinte houve pouca alteração. Mas na 23ª SE (31/05 a 06/06) as cifras brasileiras continuaram crescendo, porém, numa velocidade menor quando comparada com a média mundial. E a melhor notícia aconteceu agora, na avaliação da semana passada (24ª SE de 07 a 13/06), quando o aumento do número absoluto de casos ficou, praticamente, constante e o número absoluto de mortes diminuiu em relação à semana anterior. É a primeira vez que isto acontece desde o início da pandemia em março.
Ainda é cedo para se ter uma conclusão definitiva, mas como mostramos no Diário do dia 12/06, “Pandemia reduz o ritmo nas capitais brasileiras”, já existem sinais de que o surto da covid-19 está desacelerando em terminados locais (embora aumentando em outros). Na 24ª SE (7-13/06) os sinais positivos apareceram na média nacional, o que nos dá esperança de que estamos próximos de atravessar o pico e iniciar a descida da curva, como veremos a seguir.
O panorama nacional
Os números da pandemia do coronavírus no Brasil divulgados pelo Ministério da Saúde, no sábado (14/06), indicam 850.514 casos e 42.720 vidas perdidas, com uma taxa de letalidade de 5%. Foram 21.704 novos casos (número menor do que os 25 mil novos casos dos EUA) e 892 vidas ceifadas em 24 horas (número maior do que os 702 óbitos dos EUA e os 504 do México).
Para avaliar o ritmo da expansão da pandemia no território nacional, o gráfico abaixo mostra a evolução do número de casos da covid-19 no Brasil por semana epidemiológica (SE), segundo a definição do Ministério da Saúde que aponta a 10ª SE como a semana de 01 a 07 de março de 2020 e em seguida as demais. No dia 01 de março o Brasil tinha apenas 2 casos confirmados de covid-19 e passou para 19 casos no dia 07/03. Foram apenas 17 casos, mas o aumento foi de 9,5 vezes (o que representa 37,9% ao dia).
Até a 13ª SE (22 a 28) os números relativos ficaram acima de 30% ao dia. Porém, nas semanas seguintes os números absolutos foram crescendo ao mesmo tempo que a variação percentual foi diminuindo. No mês de março houve acréscimo de 5,7 mil casos, em abril foram 80 mil casos, em maio impressionantes 429 mil casos e 336 mil casos somente nos 13 primeiros dias de junho.