A cultura popular de Petrolina (PE)/Juazeiro (BA) a Juazeiro (CE)
Marcos Pê, artista plástico de mão cheia com um grande coração
Por Washington Luiz de Araújo, jornalista, Bem Blogado
Em 2015, eu e a companheiríssima Carmola, estivemos no sertão de Pernambuco, fazendo o roteiro Petrolina (PE)/Juazeiro(BA) a Exu (PE) e Juazeiro (CE). Gostamos tanto que voltamos neste início de 2023. Com alguma alteração, passamos por várias cidades do sertão pernambucano e pelo Vale do Cariri, no Ceará, sempre no volante seguro e animado de nossa guia mestra, Josedalva Queiroz e da sempre prestativa e afetiva “Waze” Terezinha, visitando parentes e amigos.
Mais uma página deste diário.
Conhecemos Marcos Pê num sarau de poesia popular na roça de São José do Egito. Cantando com outros artistas, dava impressão que Marcos era um músico e poeta. A noite, em São José do Egito, na Festa em homenagem ao cordelista Louro, ficamos sabendo que Marcos Pê era um renomado artista plástico, artista de mão cheia.
Nos informaram que Marcos Pê era uma pessoa desprendida, de coração solidário que não pensa duas vezes em dar uma obra sua de presente. Mas, para que estes arroubos não sejam frequentes, um anjo da guarda acompanha o artista. Trata-se de Maria Ramos, sua companheira que é uma marchand das belas criações.
Para se ter uma ideia do desapego do artista: ao vê-lo com uma bela alpercata, de couro colorido, perguntei se era do famoso Espedito Celeiro, de Nova Olinda (CE). Ele disse que era parecida, mas que não era criação de Espedito. Disse a ele que estava querendo uma alpercata bonita como aquela. De pronto, Marcos perguntou meu número de calçado, quando falei que calçava 42, fez um semblante de contrariedade. “Que pena, calço 41. Se você calçasse meu número daria esta alpercata para você”. Perguntei como ele faria, ficaria descalço? Respondeu que ficara com as minhas havaianas.
Independente de andar por aí dando seus calçados, disse a ele, sob o olhar inquiridor de Maria Arruda, que não deveria doar suas obras, pois eram frutos do seu sustento.
Recordei a grande atriz e empresária artística Cacilda Becker que, cansada de receber pedidos de ingressos gratuitos para as suas produções, pregou uma enorme faixa na porta do seu teatro em São Paulo com os dizeres: “não peça para lhe dar a única coisa que tenho para vender”.
Tomara que Marcos Pê siga a linha da atriz para que possa, desta forma, continuar a produzir o seu belo trabalho. De olho nele, Maria Ramos!
Ah, diretamente das mãos de Maria Ramos, adquirimos três gravuras, mas ao chegar perto e ver nossas aquisições, o artista foi direto ao assunto: “Vocês vão levar três gravuras? Vão ganhar mais uma, então”. Este é Marcos Pê.
Natural da Paraíba, reside no Piauí, além de artista plástico, é publicitário, ilustrou vários livros e é diretor de arte cinematográfico.
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