“Você vai notar que de 1994 a 2015 só em sete anos, a partir de 2008, a nota foi acima de BB+. Portanto, essa classificação não significa que o Brasil esteja em uma situação em que não possa cumprir as suas obrigações. Pelo contrário, está pagando todos os seus contratos, como também temos uma clara estratégia econômica. Vamos continuar nesse caminho e vamos retomar o crescimento deste país”.
A declaração da presidenta Dilma Rousseff foi publicada nesta quinta-feira (10), em entrevista ao jornal Valor Econômico, em comentário sobre a nota de crédito de longo prazo em moeda estrangeira do Brasil de “BBB-” para “BB+”, dada ao país, ontem, pela agência Standard&Poor’s.
Como o relatório da S&P justifica a nota de rebaixamento, essencialmente, em função da dificuldade de articulação política do núcleo central do governo federal, em prol da aprovação do ajuste fiscal no Congresso Nacional, Dilma rebateu, mais uma vez, a insinuação de líderes e economistas ligados à Oposição sobre um pedido de renúncia.
“Eu não saio daqui, não faço essa renúncia. Não devo nada, não fiz nada errado”, assegurou.
Dilma também afirmou que o ministro Joaquim Levy continuará a promover o ajuste no ministério da Fazenda, mesmo com as críticas que tem recebido.
“Isso é um desserviço para o país. Acho que é ruim. Primeiro porque ele não vai sair. Segundo, porque isso encobre uma tendência a tentar enfraquecer o Joaquim, que não é boa. O Joaquim tem a minha confiança. As pessoas têm de conhecê-lo para saber. Ele tem uma qualidade inequívoca: é um cara do Estado brasileiro. Quem convive com ele sabe disso. ”
Lula
O ex-presidente Luiz Ignácio Lula da Silva, que participa, em Buenos Aires, do 3º Congresso Internacional de Responsabilidade, com presença da presidente argentina, Cristina Kirchner, afirmou que o rebaixamento do grau de investimento da agência Standard&Poor’s “não significa nada”.
“Significa que apenas a gente não pode fazer o que eles querem. A gente tem que fazer o que a gente quer”, afirmou Lula, acentuando “achar muito engraçado que países quebrados da Europa” não tenha a mesma qualificação usada para avaliar o Brasil.
Segundo nota publicada pelo Instituto Lula, ao analisar a crise global, o ex-presidente afirmou que “América do Sul não pode temer a crise”.
“Se tomarmos atitudes erradas, corremos o risco de perder o que conquistamos. Quando a gente está em crise não é hora de ficar desesperado, é hora de pensar no que não foi feito ainda”, asseverou Lula.
Ao contrário da pregação de economistas conservadores em favor de grandes cortes em gastos públicos, notadamente em áreas de alcance social, o ex-presidente defendeu a priorização dessas políticas sociais em seu governo.
“Fizemos com que a política social fosse um ato de responsabilidade do governo. Eu não tinha uma tese para governar, tinha um projeto: melhorar a vida dos mais humildes”. E enfatizou que foi um conjunto de políticas sociais que “elevou o padrão de vida dos brasileiros”.
Standard&Poor’s
O deputado federal petista Enio Verri (PT-PR) lembrou, em nota da agência de informação do seu partido, que “a agência S&P foi condenada a pagar multa de US$ 1,37 bilhão às autoridades americanas por enganar investidores sobre a qualidade dos créditos imobiliários nos Estados Unidos”.
Segundo o deputado, que é professor licenciado do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá, “o próprio relatório da agência deixa claro que os motivos do rebaixamento são eminentemente políticos”.
Verri pontuou que “quando uma agência faz uma análise desse tipo, ela tem que considerar também o cenário futuro a partir das medidas que estão sendo adotadas no momento atual. Embora os números não sejam favoráveis agora, o governo está tomando as atitudes para fazer o enfrentamento. E isso não foi considerado”.
A nota da agência ainda lembra que “a S&P terá de pagar multa de US$ 1,37 bilhão às autoridades americanas por haver enganado investidores sobre a qualidade dos créditos imobiliários “subprimes”, especialmente do banco Lehman Brothers, cuja falência deu início à crise financeira que teve como epicentro a economia dos EUA. ”