Por Washington Luiz Araújo –
Dilma não tem mais discursado nesta fase do golpe que a tirou temporariamente do poder. Dilma está desabafando. E o seu desabafo tem o apoio do povo que a elegeu e que teve seu voto surrupiado. Dilma falou na abertura do V Encontro de Blogueiros e Ativistas Digitais. Mais de 20 mil pessoas a esperavam na porta do hotel. Minas abraçou Dilma e esta foi para o auditório pra agradecer o apoio que muito a emocionou e para desabafar sobre os golpistas. E desabafou e muito.
Perto do palco uma jovem, Daniela chorou o tempo todo. E Dilma brincou com ela, dizendo que também estava num dia de choro. Mas pela acolhida que recebeu, Dilma chorou mais de emoção do que de raiva.
Dilma falou do início do governo golpista. Falou sobre a ausência de mulheres, negros, LGBTs e jovens no ministério da exceção, acentuando que não estão preocupados com o social, por isso apresentam um governo de homens velhos, brancos e ricos. Falou do absurdo da extinção do Ministério da Cultura.
Dilma afirmou que foi apeada temporariamente do poder em razão das conquistas sociais dos últimos 13 anos. Chamou o governo que aí está de governo provisório e explicou: “O processo é o golpe e o governo é provisório porque é ilegítimo. Não é fruto do desejo popular. Não foi submetido às urnas e, consequentemente, o programa que tenta implantar não tem projeto”.
Dilma disse que o governo golpista já bateu um recorde de desmentidos, mas que os desmentidos não convencem, pois eles querem mesmo o corte dos projetos sociais, do salário mínimo, arrocho na Previdência e a redução extrema de recursos do SUS para o privilégio dos planos de saúde privados, Bolsa Família…
Dilma falou que vão falar, com apoio da chamada grande mídia, em rombo financeiro para justificarem os cortes nos programas sociais
Dilma lembrou Chico Buarque, que disse que aqueles que agora estão no poder o desdizem, pois o grande cantor e compositor afirmou que gostava do governo Lula, quando Dilma foi ministra, porque não falava fino com Washington e nem grosso com a Bolívia. “Não foi uma política que se reduziu ao mero gosto do mercado”. Falou ainda da tentativa de entrega do pré-sal.
Dilma falou do desrespeito contumaz à democracia deste governo interino, pois “não respeitaram o mandato de Ricardo Melo, na EBC (Empresa Brasileira de Comunicação), mostrando o pouco interesse que tem pela democracia”.
Dilma falou que os jornais ocultam que Eduardo Cunha está muito presente neste governo, pois indica líder na Câmara, ministros e membros para o jurídico.
Dilma falou das alegações de que o que sofreu não foi golpe. Alertou que os golpistas quanto mais se preocupam com a palavra golpe mais demonstram de que foi golpe.
Dilma lembrou que as chamadas suplementações fiscais, motivo alegado para a sua queda, não são crime de responsabilidade e deu o exemplo de Fernando Henrique Cardoso, que assinou 101 suplementações, sendo que destas 31 foram idênticas às assinadas por ela. “Não era crime naquela época, como também não é hoje”.
Dilma falou que a grande imprensa não toca num assunto que em outros momentos lhe é muito caro: “Não falam que a Câmara não funciona desde janeiro. Só funcionou para o meu caso (o golpe)”.
Dilma flou sobre investigações (Lava-Jato) em que só alguns são investigados e outros muitos casos passam em brancas nuvens.
Dilma encerrou dizendo que um dia falaram que ela era faxineira, mas que agora será zeladora. Vai zelar pela democracia, afirmando ainda que ela e Lula nunca reprimiram movimentos sociais, mesmo tendo opinião contrária. Dando cutucada, assim, em governadores como Geraldo Alckmin que solta sua polícia para bater em jovens e pessoas de todas idades, desde que sejam contra os seus propósitos.
Dilma em nenhum momento falou no nome de Michel Temer. E precisava?