Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem Blogado –
Há entre eleitores de esquerda e centro-esquerda um amplo desejo de que esses campos se unam já no primeiro turno da eleição presidencial de 2022. Note que existe um desejo de eleitores, não das cúpulas partidárias. E, lamento vaticinar, no quadro de hoje é quase nula a possibilidade de postulação única no campo democrático.
Para organizar a tese, vamos definir os campos. Por esquerda entende-se aqui PT, PSOL, PC do B e outras agremiações minúsculas de extrema-esquerda. E por centro-esquerda, PDT e, vá lá com muita boa boa vontade, PSB.
E são muitas as razões partidárias que autorizam a aposta que o setor progressista não marchará junto na tarefa de tentar colocar fim na tragédia causada pelo fascismo e genocida.
Comecemos pelo PT. É óbvio, em mundo político racional, que a legenda maior e com maior capilaridade tenha um argumento definitivo para escolher um dos seus como candidato à Presidência. Em país com situação democrática normal, o candidato seria o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas, como sabemos, não vivemos numa quadra normal e, sempre no cenário atual , o tapetão e as trapaças vetarão Lula na urna novamente.
Mesmo assim, é impossível pedir a um partido que venceu o pleito para presidente da República quatro vezes consecutivas e foi finalista em outro que abra mão da disputa.
PSOL e PC do B vivem situações distintas, mas ambos têm um fato a colocar no tabuleiro. Precisam superar a cláusula de barreira que ameaça as agremiações. O PC do B, principalmente, corre muito risco de extinção por lei. O xadrez da luta pela sobrevivência passa muito pelo problema.
O PC do B, não se surpreenda muito, pode até se bandear para Ciro Gomes. Afinal, o antipetismo recalcado de Orlando Silva está aí para isso.
Na centro-esquerda, alguém com mais de um solitário neurônio acredita mesmo que Ciro vai abdicar da quarta candidatura? O homem corre o Brasil há 3 anos anunciando que disputará de novo…
E o PSB, se não embarcar junto com o PDT, vai ciscando até no campo da direita, louco por um Luciano Huck ou coisa igual. Por isso, o bom senso de realidade impõe que o desejo por unidade no primeiro turno não passará mesmo disso, de desejo inalcançável.
O fato não impede, porém, que uma obrigação seja colocada desde já para os partidos que se opõem a Bolsonaro. Os inimigos não estão situados no campo democrático. Quem precisa ser aniquilada é a candidatura fascista.
O que isso quer dizer? Que por grandes que sejam nossas diferenças elas nunca serão maiores do que a que todos temos com o fascismo. Aliás, não é que nunca serão maiores. Nossa desavença liminar é com o fascismo.
Por isso, o PT não pode perder tempo com as ofensas de Ciro Gomes a Lula e ao petismo, por mais que elas causem revolta. Não cabe também aos petistas se engalfinharem em redes sociais com o PSOL, como temos constatado nas últimas semanas, e nem adotar a soberba que fora do PT não há salvação.
Ao PDT e ciristas, que tal terminarem com as ofensas? A continuar assim, difícil cravar, por mais ojeriza que tenham em relação a Bozo, que os petistas endossariam com vigor um apoio a Ciro em eventual segundo turno contra o genocida.
E o PSOL tem que saber lidar com sua ala lavajatista que tem no PT o alvo principal de seus delírios.
É difícil manter a racionalidade em tempos em que a Política é quase sempre pautada pela superficialidade e dedos rápidos que regem as redes sociais. Mas é necessária a compreensão de quem é nosso inimigo.
A preços de hoje, Bozo estará no segundo turno, gostemos ou não. E se as pontes forem dinamitadas no campo democrático, facilitaremos o caminho para o fascismo. O Brasil não aguentará a reeleição de Bozo.
Portanto, juízo, muito juízo.
Imagem da capa: charge de Clóvis