Diplomatas são perseguidos por Bolsonaro, denuncia jornal Le Monde

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Da RFI, compartilhado de Jornal GGN – 

O texto começa lembrando da tradição diplomática do país, com representações em 222 países. “O Brasil possui o oitavo serviço diplomático mais importante do planeta”, explica a reportagem

Diplomatas brasileiros afirmam serem vítimas de um clima de “caça às bruxas” e uma “perseguição ideológica” Reprodução / Le Monde
O texto começa lembrando da tradição diplomática do país, com representações em 222 países. “O Brasil possui o oitavo serviço diplomático mais importante do planeta”, explica a reportagem, ressaltando que a presença do Itamaraty no mundo ultrapassa nações como Itália, Espanha ou Reino Unido.

Além disso, a diplomacia brasileira é formada por profissionais altamente qualificados, aponta o jornal. Quase sempre trilíngues, eles são formados no Instituto Rio Branco, após passarem “um dos concursos mais difíceis do país, com 6.400 candidatos para 20 vagas em 2019”, detalha o jornalista.

No entanto, ressalta o jornal, o Itamaraty “se tornou um alvo para Jair Bolsonaro”. O presidente é apresentado pelo Le Monde como um “modesto capitão da reserva, que despreza o que considera uma ‘aristocracia’ orgulhosa e letrada”. Para completar, continua o correspondente, a diplomacia seria “um ninho de partidários da esquerda”, marcado por uma “ideologia marxista”, diz o texto, citando uma declaração de Eduardo Bolsonaro.

Caça às bruxas

“Desde que a extrema direita de Jair Bolsonaro está no poder, qualquer um que desenvolva um pensamento crítico é punido”, desabafa um diplomata entrevistado pelo jornal francês. “Vivemos um clima de caça às bruxas”, denuncia o funcionário do alto escalão do ministério das Relações Exteriores, que preferiu manter o anonimato.




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Para as fontes ouvidas, existe uma tentativa de “destruir o ministério”. Em apenas um ano, cinco embaixadas brasileiras foram fechadas no Caribe e outras duas ou três devem deixar de funcionar na África, contabiliza o correspondente.

Segundo diplomatas entrevistados, uma verdadeira “perseguição ideológica” está acontecendo nesse momento no Itamaraty, visando, principalmente, aqueles que integraram a diplomacia durante as gestões de Lula e Dilma. Os funcionários indesejáveis são geralmente mandados para bases menos importantes e quase sempre substituídos por nomes menos experientes, aponta o texto.

Um exemplo citado é o do diplomata Paulo Roberto de Almeida, ex-diretor do Instituto de Pesquisas em Relações Internacionais (IPRI), que foi transferido para cuidar dos arquivos do ministério. “Não me deram nenhuma função exata, então eu me ocupo como posso, lendo e escrevendo”, confessa o funcionário, que também teve seu salário reduzido.

Para Almeida, trata-se de uma estratégia de “intimidação”, que ninguém ousa denunciar. “Os corredores estão vazios. As pessoas se trancam em suas salas. A casa ficou silenciosa”, afirma. Outro diplomata diz que tem aumentado o número de casos de depressão entre seus colegas.

O texto aponta que essa “ofensiva” é liderada pelo chanceler Ernesto Araújo, personagem atípico, capaz de citar Proust e uma réplica de telenovela no mesmo discurso, ironiza o correspondente. E enumera as mudanças de posição da diplomacia brasileira desde o início do novo governo, como o desengajamento na Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), a nova postura sobre as questões climáticas, ou ainda o abandono das pautas ligadas à defesa dos direitos humanos, bloqueando discussões sobre imigração, gênero e direito ao aborto.

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Na contramão de Washington?

O embaixador do Brasil em Paris, Luís Fernando Serra, ouvido pelo Le Monde, defende a nova estratégia do Itamaraty e fala de um simples “reequilíbrio”. Segundo ele, o país apenas abandonou, entre outras coisas, o “desalinhamento automático com os Estados Unidos” que primava nas gestões anteriores. O representante brasileiro na capital francesa diz que, com Bolsonaro, o país vive agora “uma diplomacia pragmática e aberta”, que não se submete a Washington, mas também não renuncia à Europa”.

Mas para o professor de relações internacionais da Universidade de Harvard, Hussein Kalout, o que acontece nesse momento vai além de um simples reequilíbrio. “Há um ano, o alinhamento com Washington é total e incondicional”, afirma, citando como exemplo o voto de Brasília contra o fim de embargo americano em Cuba ou o apoio de Bolsonaro ao assassinato do general iraniano Soleimani.

“O patrimônio nacional está sendo dilapidado”, insiste um dos diplomatas ouvidos. “Nosso país não é um líder natural, como a França ou os Estados Unidos. Nossa influência é relativa e teve que ser conquistada. Uma hora vamos acordar desse pesadelo e vamos nos dar conta que o soft power brasileiro desapareceu”, desabafa.

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