O cineclube Vladimir Herzog, do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, exibe no dia 15 de abril o filme “Díptico Mário Peixoto”, de G. Blay. Veja todas as informações sobre ele:
Compartilhado de Construir Resistência
No final dos anos 80, quando o diretor G. Blay teve seu primeiro contato com “Limite” no icônico Cine Bijou ele ficou encantado, adquirindo uma fita VHS. A obra, único filme do consagrado cineasta brasileiro Mário Peixoto, lançado em 1931, tinha sido restaurada naquele período por Saulo Pereira de Mello.
“Limite” é considerado a primeira expressão do cinema experimental na América Latina, mal compreendido no seu lançamento, tornou-se um dos mais cultuados da cinematografia brasileira após a restauração. Recebeu em 1988 o título de melhor filme brasileiro de todos os tempos pela Cinemateca Brasileira. A mesma honraria também foi concedida pela Folha de São Paulo em 1995 e pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) em 2015.
O encantamento de G. Blay com “Limite” fez do filme tema de seu estudo de mestrado, realizado em 2003. Durante o processo de pesquisa, G.Blay se deparou com o livro de Mário Peixoto “O inútil de cada um”. O diretor, ao identificar características autobiográficas na publicação, resolveu adaptá-la ao cinema, ideia que originou o filme “Díptico Mário Peixoto” (2023).
“Díptico Mário Peixoto” é dividido em duas partes, são adaptações cinematográficas de dois capítulos do livro que formam um verdadeiro díptico, artefato formado por metades unidas, articuladas entre si. O projeto iniciou-se com o média-metragem “Nuanças” (produzido em 2011), sendo concluído dez anos depois com a produção de “Hibernação” (filmado em 2021).
Na primeira parte do filme, “Nuanças”, o público é apresentado a Orlando, alter-ego de Mário Peixoto, que vive uma crise poético-existencial ao acordar. No segundo momento, em “Hibernação”, o personagem é o próprio Mário Peixoto em uma aventura de barco até uma ilha próxima onde encontrará mistérios, e, por fim, a si mesmo.
A união dessas obras resulta em um filme de arte de 93 minutos, inspirado na produção fílmica e na linguagem do homenageado. O longa destaca-se pela sua direção de arte e também pela sua fotografia, com cenas com bastante experimentação e exploração de detalhes, com o uso de recursos como sobreposição de imagens e close-up.
O filme ainda tem como ponto alto o elenco formado por Eliseu Paranhos, Allan Bless, Juliana Fagundes, Ian Blay Dupin e Rafael Raposo, premiado como melhor ator pela FIESP/SESI em 2007 ao interpretar Noel Rosa no longa-metragem “NOEL – Poeta da Vila”.
G. Blay, além de assinar a direção, roteirizou e produziu o filme. O longa é uma expressão da sua paixão pela obra de Mário Peixoto. Passados mais de 90 anos da primeira exibição de “Limite”, em 1931, “Díptico Mário Peixoto” é uma oportunidade de reverenciar a imensa contribuição tanto poética como imagética desta grande figura da história da produção artística brasileira.