Publicado na Revista Brasileiros –
Conservadores voltaram às ruas, mas não conseguiram adquirir representatividade partidária nem espaço na academia
Na esfera intelectual, a situação é ainda pior: “Não vejo posição conservadora estruturada na academia”, declarou José Álvaro Moisés, diretor do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da USP, à Folha. “Por definição, a perspectiva de mundo da academia é crítica e por isso é mais comum ter contingentes [de estudiosos] situados muito mais na esquerda ou no centro-esquerda”, justifica.
A “hegemonia da esquerda” na academia se deve à presença ainda marcante do trauma com o regime militar, sugere Power, de Oxford: “Muita gente ainda associa a direita com tortura e gorilas da repressão. A nova direita tem de se distanciar desse legado, o que fica difícil quando você tem pessoas como [o deputado federal] Jair Bolsonaro [PP-RJ], com discurso pró-ditadura no Congresso”, disse o brasilianista.
Na opinião de Power, o governo “FHC tinha muito mais conteúdo programático. Não vejo agenda proativa de Temer, mas uma defensiva para ficar no poder”, opina.
Intelectuais ouvidos pelo jornal Folha de S.Paulo consideram que a direita vem tentando renascer no Brasil desde 2013, mas esbarra na falta de respaldo acadêmico e numa militância pouco consistente.
Segundo o brasilianista Timothy Power, da Universidade de Oxford (Inglaterra), as manifestação contra a presidenta Dilma Rousseff foram articuladas a partir das redes sociais. Mas esses movimentos não adquiriram maior representatividade partidária: “A gente vê que eles ostentam muita força de mídia, mas carecem de densidade”, afirma.
“Você não pode comparar o MBL (Movimento Brasil Livre) com a CUT (Central Única dos Trabalhadores), que tem capilaridade, a nível local e nacional, e opera 24 horas por dia, sete dias por semana, o ano inteiro. Não é o tipo de movimento como o Vem Pra Rua, que é nada mais que um site que define data e local de mobilizações.” Power vê nessa tendência um “neoconservadorismo popular”, que defende o liberalismo clássico.
Já para o cientista político Fernando Limongi, eles são basicamente “radicais de direita, sem muitos pendores democráticos” e também sem muita abrangência: “Não acho que esse grupo esteja em sintonia com as ruas, o que quer que sejam as ruas”, disse. “Ninguém sabe qual é a vontade das ruas, nem mesmo se elas são ‘liberais’”, diz Limongi.