Em breve será lançado o CD das parcerias de Luiz Moura e Afonso Machado. Um disco para presentear seus ouvidos da melhor música.
O CD traz 11 músicas cantadas por Guinga, Pedro Miranda, Miucha, Soraya Ravenle, Marcelo Caldi Pessoal, Carlinhos Vergueiro, Marcos Sacramento, Nina Wirtti, Ilessi, Amelia Rabello, Delcio Carvalho e Zezé Gonzaga.
Vejam o que diz na capa do disco o grande compositor Aldir Blanc sobre a dupla e nossos tristes tempos atuais: “Afonso Machado é músico, um dos grandes craques no bandolim, da linhagem ilustre de Jacob a Hamilton de Holanda. Luiz Moura é do violão, da linhagem de Baden a Raphael. Mas eles foram e continuam sendo empurrados pra fora da telinha das rádios, etc., pelos pseudo-artistas “midiáticos”, que tocam mal, compõem pior ainda e cantam (???) em terrível tentativa de transformar nossos ouvidos em penicos.”
Aqui, texto de Afonso Machado sobre sua parceria com Luiz Moura e o novo disco:
“Luiz Moura merece um capítulo à parte. Começamos a nos encontrar periodicamente pra tocar e do nada saíam músicas. O primeiro choro que fizemos chamou-se Deixa falar, e foi dedicado a Raphael Rabello. Uma vez Luiz chegou com uma primeira parte fantástica e falou. Essa é em Fá maior, porque vou homenagear o amigo clarinetista Celso Cruz, e esse tom fica bom pra todo mundo.
Nesse mesmo momento fizemos a segunda juntos e saiu o Depois dos arcos. O nome foi dado pelo próprio Luiz, lembrando o lugar onde morava, ali nas proximidades da Rua Gomes Freire, logo depois dos arcos da Lapa. E também por ali ficava um pé-sujo, onde nos reuníamos volta e meia, Luiz, eu e o Raphael.
Conversamos ali mesmo sobre meu desejo de que ela tivesse uma letra. E no dia seguinte nos reunimos para gravar uma fita cassete que Raphael levou pro Paulo César Pinheiro. Poucos dias depois, Paulinho nos telefona e, como é seu hábito, falou: Pega papel e caneta aí! E ditou a letra perfeita para o choro, claro que falando de um personagem boêmio pela Lapa, que é o Luiz com seu violão vagando por ali. E depois, Amélia, Luciana, Luiz e Paulinho foram à minha casa já com a música na ponta da língua da Amélia Rabello.
DEPOIS DOS ARCOS
Afonso Machado / Luiz Moura / Paulo César Pinheiro
GOSTO DE VAGAR QUANDO EU SINTO SOLIDÃO
COM MEU VIOLÃO PELA RUA
UMA CANÇÃO QUALQUER, UMA LEMBRANÇA, UM VULTO DE MULHER
UMA ESQUINA, UM BAR E UM PEDAÇO DE LUA
SEI QUE ONDE EU PARAR
SEMPRE VAI SURGIR ALGUÉM
QUE TAMBÉM NÃO TEM COMPANHIA
VAMOS TOCAR, VAMOS CANTAR
E AFUNGENTAR A NOSTALGIA
ALTA MADRUGADA, PAIRA UM SILÊNCIO NO AR
TODA A CIDADE CALADA E EU SOB OS POSTES DE LUZ
PASSO NA CALÇADA, NADA EM REDOR ME SEDUZ
SÓ O BRAÇO DO MEU VIOLÃO ME CONDUZ
E EU CUBRO COM AS MÃOS O OLHAR
PRA CHORAR
A primeira gravação, claro, foi de Amélia no seu primeiro disco, com arranjo de Cristóvão Bastos e participações de Luiz Moura, Raphael, Luciana Rabello e Afonso Machado. Além de algumas outras regravações, há uma antológica no terceiro disco do Galo Preto que tem uma participação especialíssima de ninguém menos que Chiquinho do Acordeom.
Depois, Bartholomeu Wiese e eu (o duo Bandolim e violão) a gravamos com um grande acordeonista sueco – Lars Holm. Ele, que tem como ídolo o nosso Sivuca, dirigiu-se a mim, com os olhos marejados – coisa incomum para um sueco: Gravei com vocês uma das músicas mais bonitas que já toquei! Obrigado!
A cada semana Luiz e eu fazíamos uma. E foram saindo melodias que acabavam sendo letradas pelo Paulinho. Fizemos várias com esse clima de choro-canção boêmio. Só da série Depois dos arcos, além dessa, tem cinco: Boêmio, Pela noite, Folha rasgada e Sombra de mim.
E, aos poucos, elas vão sendo gravadas pela Amélia, que é a madrinha e dona delas todas. A parceria Luiz e Afonso rendeu mais de cem canções.
Um dia, em um sarau na casa da família Rabello, no Cosme Velho, Radamés Gnattali estava presente e tocamos o Depois dos arcos. Ele foi chegando perto pra ouvir e perguntou que música era aquela. Nós dissemos quem eram os compositores e o maestro falou: Vocês querem passar lá em casa amanhã? Gostei demais e vou fazer um arranjo pra esse choro!
Fomos lá e ele tocou conosco – guardo a imagem dessa cena: nós, o maestro e seu gato em cima do piano. Tivemos notícia de que o arranjo foi feito para o seu quinteto. Mas, infelizmente o maestro morreu algum tempo depois e nunca achamos a partitura desse arranjo.”