Um encontro entre a filha de um temido torturador da ditadura militar argentina e uma ex-presa política torturada por ele é o fio condutor do documentário Meu pai, o criminoso, produzido pela Deutsche Welle, a TV pública alemã, que descreve como filhos de genocidas se insurgem contra seus pais.
Por Lúcia Rodrigues, compartilhado de Holofote Notícias
Na foto: Detalhe da fachada da Esma, a Escola Mecânica da Armada, principal centro de tortura e extermínio da ditadura militar argentina e onde hoje funciona um memorial em homenagem às vítimas da repressão. Fotos: Lúcia Rodrigues
A professora primária e psicóloga Analía Kalinec, filha do genocida Eduardo Emílio Kalinec, fica frente a frente com a psicanalista Ana María Careaga, vítima de seu pai, no centro de tortura e extermínio, localizado embaixo de uma importante rodovia de Buenos Aires, onde foi seviciada por ele.
O encontro é marcado por um sentimento de dor de ambas as partes. A filha vai em busca de saber mais detalhes sobre os crimes que o pai cometeu durante a ditadura que perdurou no país de 1976 a 1983.
Analía só descobriu que o pai era um torturador quando já era adulta. De pronto o rechaçou.
E ela não está só na repulsa contra um pai genocida. Assim como Analía, vários filhos e filhas de gorilas responsáveis pelos 30 mil assassinatos de ativistas de esquerda, se insurgem contra os pais.
Eduardo Emílio foi condenado à prisão perpétua pela tortura e morte de quase 300 ativistas políticos. Analía defende que ele cumpra a pena determinada pela justiça.
E foi justamente participando de uma manifestação contra um plano que visava reduzir as penas dos torturadores, que a professora conheceu outros filhos e filhas de genocidas que pensavam como ela.
Formaram o coletivo Histórias Desobedientes, que reúne parentes de torturadores, para lutar por memória, verdade e justiça.
Saem às ruas para exigir a punição dos torturadores que ainda não foram condenados e evitar que os que já foram presos tenham as penas reduzidas.
A família a considera uma traidora por se insurgir contra o pai. Ele inclusive, assim como duas de suas irmãs a quiseram deserdar.
Ela conta com o apoio do marido e revela a história aos filhos, para que conheçam o passado do avô.
O advogado Pablo Viera é outro que luta para que o pai seja responsabilizado pelos crimes que cometeu durante a ditadura.
Ele lamenta que seu testemunho não seja acolhido pela justiça como prova de que o pai, médico, participou dos voos da morte, para aplicar injeções nos presos opositores do regime que eram atirados ao Rio da Plata.
A Argentina teve centenas de centros de tortura e extermínio. Vários foram transformados em espaços de memória em homenagem aos que tombaram nas mãos dos verdugos. Veja a seguir alguns dos mais conhecidos e assista na sequência ao documentário Meu pai, o criminoso.
Assista abaixo ao documentário Meu pai, o criminoso