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País era governado pelo general Ernesto Geisel na época; documentos mostram que regime escondeu fato e perseguiu quem informava população
Jornal GGN – Assim como ocorre com o coronavírus, o Brasil passou por outra epidemia em grande escala no passado recente: durante o regime militar, na década de 70, houve uma grave epidemia de meningite que levou muitos brasileiros à morte e superlotou hospitais. E o governo da época atuou para proibir a divulgação de dados oficiais, tanto que até hoje não se sabe ao certo a quantidade de casos e vítimas.
Segundo informações do portal UOL, documentação do Arquivo Nacional não só mostra como o regime militar trabalhou para censurar veículos de comunicação como espionou, perseguiu e deu ordens para que quem estivesse informando a população sobre a doença fosse investigado.
As ordens do regime eram claras: não alarmar a população e não ferir a imagem do governo durante o chamado “milagre econômico”, mas a gravidade era conhecida pelas autoridades. Informe do SNI (Serviço Nacional de Informações) explica que a epidemia teria começado na cidade paulista de Osasco, e se espalhado pelo país, e essa epidemia também poderia afetar negativamente o andamento da campanha eleitoral.
Mesmo sabendo da gravidade, o governo manteve a proibição da divulgação dos dados durante quase todo o período. E os pesquisadores têm poucos documentos para estudar a respeito, já que boa parte dos arquivos da época da ditadura foi destruída.
Além de esconder a epidemia de meningite, existe a suspeita de que corpos de jovens foram escondidos pelo regime: cerca de 450 das 1500 ossadas encontradas em valas clandestinas do cemitério de Perus, em São Paulo, eram de pessoas com menos de 16 anos, e muitos podem ser vítimas da meningite.
Segundo Eugênia Gonzaga, procuradora Regional da República em São Paulo, e ex-presidente da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, “aquelas ossadas das quadras um e dois eram fruto de sepultamentos feitos nos de 1970 a 1974, época dessa epidemia. O número de jovens mortos foi muito alto, não foi um percentual normal”.
Tanto historiadores como infectologistas fazem um paralelo do comportamento governamental da época – o presidente era o general Ernesto Geisel (1974-1979) – com a falta de transparência do governo Jair Bolsonaro sobre os dados da covid-19, uma vez que o Ministério da Saúde reduziu a quantidade de informações disponíveis sobre a doença.