O fascismo português também teve seu campo de concentração para prender opositores do regime, e muito antes da formação dos campos nazistas.
Por Lúcia Rodrigues, compartilhado de Holofote
O Campo do Tarrafal ou Campo da Morte Lenta, como era conhecido pelos prisioneiros que eram mandados para lá, estava localizado a quase três mil quilômetros de Lisboa.
Encravado em uma inóspita aldeia do município do Tarrafal, no Arquipélago de Cabo Verde, na África, tinha como referência continental mais próxima, a cidade de Dakar, no Senegal.
Os primeiros prisioneiros portugueses chegaram no final de 1936. Mais de uma centena e meia de homens, capitaneados pela cúpula do Partido Comunista Português.
Mas a ditadura também mandou para lá um menino de 15 anos. Edmundo Pedro foi deportado com o pai, e sobreviveu aos horrores do Tarrafal por nove anos, entre 1936 a 1945. Achava que a morte estava sempre a espreita, e não sabia quem ia ser a próxima vítima do fascismo.
Às brutais torturas e às condições degradantes do sistema prisional a que as vítimas eram submetidas, ainda se acrescia o clima escaldante da ilha, em que as temperaturas podiam atingir niveis insuportáveis à vida humana.
A cela de castigo, apelidada de frigideira, podia chegar a 60 graus centígrados. Quem ia para a solitária dificilmente conseguia sobreviver ao suplício. Antes de entrar o preso era despido e recebia pão e água racionados.
Tudo era incipiente no local, e o trabalho forçado era prática cotidiana no Campo. Foram os próprios presos que constuíram, por exemplo, os muros do Tarrafal que os aprisionaria.
Até 1956 recebeu antifascistas portugueses. Em sua segunda fase, também passou a aprisionar anticolonialistas africanos.
O Campo de concentração do Tarrafal foi extinto após a Revolução dos Cravos. E em dezembro de 2000, transformado no Museu da Resistência.
Assista reportagem da TV caboverdiana sobre o Tarrafal e as comemorações do 25 de Abril.