Por Yuri Fernandes, compartilhado de Projeto Colabora –
Com apresentadores LGBT+, negros, indígenas e de diferentes regiões do país, Canal Reload estreia com foco no público jovem a partir da união do #Colabora com mais nove organizações jornalísticas independentes.
Apresentadores LGBT+, negros, indígenas e com diferentes sotaques fazem parte do time do novo Canal Reload, criado por meio da união do #Colabora com mais nove organizações jornalísticas nativas digitais e independentes. Com o objetivo de descomplicar as notícias, democratizar e ampliar o alcance da informação, o Canal Reload estreou nessa terça-feira, 01, já mostrando quem são os 12 influenciadores que vão apresentar, cada um a seu modo, o conteúdo escolhido entre as reportagens produzidas pelos veículos do consórcio. A diversidade ficou no radar da equipe durante todo o trabalho de pesquisa e desenvolvimento do canal, que pode ser encontrado no Instagram, no Twitter, no Facebook e também no Youtube e Whatsapp.
No time do Reload, a carioca de 24 anos Mia Fidelis não esconde a alegria e também a responsabilidade de levantar a bandeira trans. Ela acredita que a sua presença pode construir uma via de mão dupla, onde a sociedade se abre ao diálogo sobre identidade de gênero e pessoas trans possam se empoderar a partir dessa representatividade.
“Muitas vezes, não somos levadas a sério por boa parte da população. Esse protagonismo que o Reload está proporcionando para mim é muito importante para que gere um entendimento de que mulheres trans são capazes de exercer qualquer tipo de trabalho, assim como qualquer pessoa cis, e que nós não somos apenas objetos sexuais. A partir dessa semente que é plantada, espero que meu trabalho em um canal de jornalismo abra a cabeça não só da sociedade, mas também de meninas como eu. Que elas possam se espelhar e acreditar que também podem ocupar todos os lugares”, celebra.
O ator João Freire, de 19 anos, é outro que está na expectativa de poder expressar sua identidade e exercer seu trabalho sem ser cerceado pela sua sexualidade. “É incrível a liberdade de gravar os meus vídeos com as roupas e acessórios que eu me identifico, usando o meu linguajar, ao invés de precisar forçar uma heteronormatividade. Ocupar esse lugar enquanto homem gay é uma conquista”.
Direto de Recife, Bell Puã é poeta, cantora, compositora, atriz e mestra em História. Mesmo com esse vasto currículo, a artista ainda arrumou um tempinho para ser apresentadora do Reload. “A diversidade entre os apresentadores faz jus a um Brasil miscigenado, que raramente tem um apresentador negro ou indígena, por exemplo. O Reload evidencia nós pessoas negras, os LGBT+ os indígenas. Temos duas apresentadoras indígenas a Priscila Tapajowara e a Samela Sateré-Mawé”, explica Bell.
“A gente sabe que não há uma representatividade indígena nos meios de comunicação. Quando se tem, muitas vezes é de uma forma muito estereotipada. Então ter outros jovens, principalmente mulheres, ocupando lugares de fala onde nós possamos fazer denúncias e falar sobre as coisas que estão acontecendo em nossas regiões é de extrema importância porque os jovens vão se inspirar e querer fazer parte disso,” diz Priscila, que é ativista, co-coordenadora da Mídia Índia e moradora de Santarém, Pará. Conheça todos os apresentadores:
Para Hugo Cuccurullo, diretor do Reload, a pluralidade deve estar na raiz de qualquer novo projeto para que a conexão com o público seja a mais eficaz possível. Em um Brasil tão diverso, se torna uma obrigação abraçar a diversidade. “Um dos pontos que apareceu em nossas pesquisas foi que, para os jovens, credibilidade parte muito de uma conexão e proximidade entre quem passa e quem recebe a informação. Por isso, buscamos não somente aproximar a linguagem mas também trazer jovens comunicadores para o projeto. São 12 influenciadores entre 19 e 27 anos que vão trabalhar junto com os jornalistas na construção e apresentação dos vídeos e apresentação. E para tentar espelhar a diversidade da juventude urbana brasileira fizemos uma seleção entre quase 100 comunicadores para escolhermos uma equipe bastante plural e com bastante representatividade”.
Como os jovens consomem notícias?
A partir deste questionamento, as 10 organizações (((o))eco, Agência Lupa, Agência Pública, Amazônia Real, Congresso em Foco, Énois, Marco Zero Conteúdo, Ponte Jornalismo, Projeto #Colabora e Repórter Brasil) uniram forças para criar o Reload. Juntas, elas têm mais de 100 prêmios nacionais e internacionais, como o Prêmio Gabriel García Márquez, Prêmio Rei da Espanha e um Leão de Bronze do Festival de Cannes.
Para a construção do canal, foram feitas ao longo de três meses pesquisas para entender como os jovens consomem notícias e conteúdo nas redes sociais. A Énois ouviu jovens com idades entre 18 e 28 anos para a pesquisa, que revelou que 75% dos respondentes consomem notícias na internet diariamente. As redes sociais são a principal fonte de notícias para 91% destas e destes jovens. Para 70% deles, o Instagram é a principal rede usada para se informar.
Essas pesquisas levaram a equipe a pensar no formato e na linguagem do Reload, que vai apresentar informação de maneiras inovadoras: histórias em quadrinhos, poesia slam e lyric videos, por exemplo. Veja abaixo o primeiro vídeo lançado nessa terça-feira, 1º de setembro.
O Reload se apoia na qualidade e na credibilidade de 10 organizações disruptivas no jornalismo digital para produzir conteúdo com linguagem ágil e moderna, que se conecta diretamente com o público jovem. “Todas as organizações que fundaram o Reload já têm a inovação no seu DNA e um significativo público jovem. Sabemos que eles querem estar bem informados para participarem do debate público e decidimos oferecer um jornalismo de qualidade, pensado para esse público”, diz Natalia Viana, coordenadora geral do Reload.
Ao compreender o consumo de notícias pelo público jovem, o Reload contribui para fortalecer o campo do jornalismo digital no Brasil. O Reload foi uma das iniciativas ganhadoras do Google News Innovation Challenge em 2019, projeto do Google News Initiative para ajudar o jornalismo a prosperar na era digital. O projeto conta também com apoio da Fundação Ford no Brasil.