Do estupro de cada dia nos livrai hoje

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 Sempre admirei a arte da fotografia. Aquela “magia” que parece capturar a alma humana e a essência das coisas. A imagem que ilustra este texto fala por si. Há dor. Há muita dor desvelada nesse “retrato em branco e preto”. Impossível não ser tocada pela fotografia, que eterniza o momento.  Mas, contar ou recontar a história contida cabe a nós, profissionais do texto.

Por Adriana do Amaral, compartilhjado de seu Blog




Na foto: Amigas se despedem da garota morta precocemente 
Foto: GazetaViews

Questionei o autor do que se tratava. Por que choraram esses meninas? Esse choro que me impacta trinta anos depois… 
A foto registra o momento em que as amigas velavam a vida ceifada pelo egoísmo humano. O crime  aconteceu no início da década de 1990. A jovem foi estuprada e morta dentro da própria casa, vitimada por um conhecido/parente que a surpreendeu e depois tentou simular um assalto.
Atração fatal
O tema da violência doméstica é atemporal. Sempre existiu. Seja em tempos de guerra e de paz. 
Na afirmação do poder. Pela cumplicidade social. No descaso da lei.
Cada caso de estupro anunciado reprime tantas dores outras, que geralmente eternizam cicatrizes. Por isso, eu insisto: a vítima nunca, jamais será culpada. Cúmplice do abuso serão aqueles que buscarem justificativas em prol do estuprador.
Geralmente, a violência relacionada ao sexo é acompanhada de práticas extremamente agressivas, sejam físicas ou psicológicas, mas eu repito à exaustão: a penetração sequer precisa ser consolidada para ser estupro. Um passar de mão já basta. Assim como o assédio sexual e moral também podem ser configurados em palavras, gestos e até omissões.
Ao meu ver, o abuso sexual é crime que extrapola todos os limites do meu entendimento e capacidade de compreensão. Ele é praticado contra bebês, crianças, jovens, adultos e idosos, pessoas com, deficiência, de ambos os sexos ou identidades de gênero. Por familiares ou desconhecidos, dentro de casa ou no trajeto cotidiano das vítimas, em festas de amigos, em lugares públicos e privados.
E o estupro se repete, e repete e repete… É um ciclo sem fim essa história de horrores.
O caso do jogador de futebol, Daniel Alves, preso por suspeita de estupro, na Espanha, atiça fogo na fogueira dos debates. Eu me pergunto: Como um homem jovem e “esclarecido”, moderno até, pode achar-se no direito de abordar uma mulher pelo seu bel prazer? 
As mentiras contadas pelo brasileiro em suas diferentes versões, durante os depoimentos e declarações, parecem corroborar para a versão da vítima. A justiça decidirá. Espero, se fará, como pediu a jovem.
Os casos se multiplicam 
No Brasil, a cada dez minutos uma mulher é estuprada, de acordo com estudos divulgados, em 2022, pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Como vimos recentemente, nem nos leitos dos hospitais alguns vítimas estavam seguras.
São recorrentes, ainda, os casos de estupros múltiplos, quando a mulher é abusada por um grupo. Nesses casos, geralmente há exposição pública.
Crime, castigo, tratamento e assistência
Há muito a ser investigado em relação às motivações que levam ao estupro. Lembro-me da patologia conhecida como Síndrome da Criança Espancada, quando a vítima pode tornar-se algoz repetindo o mesmo mal que sofreu. Ou mesmo a repetição do modelo familiar, quando a agressão doméstica é vista como normal, afetando não apenas os pais e as filhas, mas os filhos, num ciclo permissivo.
Quem nunca conversou com uma mulher estuprada, sugiro que o faça. Os requintes de crueldade e barbárie civilizatória extrapolam todos os limites possíveis.
E, quando o estupro evolui para uma gestação indesejada, o crime ganha novas proporções de tragédia humana. Principalmente porque a legislação brasileira dificulta, muitas vezes, o aborto assistido. 
Penso que a legalização do aborto tem de ser fomentado como um debate nacional urgente. Defendo que deveria ser um direito de escolha, com as garantias de assistência integral, multiprofissional. Afinal, ainda temos de avançar para que uma gravidez seja planejada, desejada, suportada ao longo da vida. 
Sempre eduquei os meus filhos dizendo: não é não. E isso vale para a vida. É preciso impor limites e respeitá-los. Quando os limites são transpostos é vital denunciar.
Nossos corpos, nossas regras.

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