Do livro às telas: Mostra Cinema na Terra lança ficção “Um Fantasma Ronda o Acampamento”

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O filme, gravado com as crianças da Ciranda Saci Pererê, da ENFF, é baseado no livro homônimo da escritora Maria José Silveira

Parte do elenco e equipe de produção técnica do filme. Foto: Divulgação MST

Por Wesley Lima
Da Página do MST

Mostra Cinema na Terra: a Conquista das Telas, organizada pela Brigada de Audiovisual Eduardo Coutinho (BAEC), lança nesta próxima sexta-feira (9/10), às 19h, nas redes sociais do MST, o filme “Um Fantasma Ronda o Acampamento”. O lançamento compõe a programação de exibições da Mostra que teve início no dia 11 de setembro e encerra com a estreia da ficção.




O filme, gravado com as crianças da Ciranda Saci Pererê, da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), é baseado no livro homônimo da escritora Maria José Silveira. Publicado em 2006 pela Editora Expressão Popular e destinado ao público pré-adolescente, já com capacidade de leitura desenvolvida, o livro aproveita as ideias de aventura e terror para mostrar como as crianças Sem Terrinha descobrem a trama de um fazendeiro e seus capangas para assustar e retirar um acampamento do MST recém-instalado.

As filmagens aconteceram na ENFF entre os meses de julho e agosto de 2019. Foram aproximadamente oito dias de trabalho com as crianças, atores e atrizes populares do MST. Um cenário montado, luzes, fogueira, famílias Sem Terra, músicas da luta do MST, câmeras, tripés, microfone e muitas brincadeiras deram vida à história.

O projeto é uma construção coletiva e Révero Ribeiro, militante do MST que coordena as atividades culturais e artísticas na ENFF, esteve presente desde o início de criação da proposta. Em entrevista para o Blog Zagaia, antes da produção e filmagens, ele conta que foi pensado em fazer uma adaptação teatral do livro, “que as crianças adoram”, mas a ideia “evoluiu para fazermos o vídeo”, que foi abraçado pela BAEC.

Révero Ribeiro é militante do MST e integrante da ENFF. Foto: Divulgação MST

Hoje, em entrevista para Página do MST, Révero diz que o vídeo transformou-se num bonito trabalho desenvolvendo vários paralelos e apresentando o MST a partir da luta pela terra, da convivência em comunidade, do processo de resistência e da organização das famílias. Ele explica também “que é muito importante as pessoas de fora do MST terem contato com essa realidade, que não é o que as pessoas conhecem pela mídia. Ter contato com o filme vai revelar para sociedade a luta do movimento a partir do próprio movimento”.

Além de ser o pioneiro na proposta do filme, Révero também foi ator. Para ele o contato com as crianças na gravação rendeu uma experiência que ele leva para toda vida.

“Aqui na ENFF nós temos um grupo de teatro da Ciranda Saci Pererê e a gente tinha a vontade de fazer uma experiência de atuação para o vídeo, porque a gente trabalha muito com o teatro e a ideia partiu daí. Foi um exercício muito interessante para as crianças e para mim também. Com a vinda da BAEC isso foi se caracterizando mais profissionalmente. O que era um exercício, uma brincadeira, acabou virando um filme mais sério, com mais estrutura”, conta.

O protagonismo camponês nas telas

Sobre a importância da construção do filme e a necessidade de se construir um processo amplo que conte a história do MST pelo próprio MST, Luara Dal Chiavon, integrante da BAEC, explica que “na história do cinema nacional a gente viu que o campo em geral sempre foi muito mais uma paisagem do que a construção de personagens marcantes a partir do camponês. A gente teve o Cinema Novo, que se voltou para o campo, mas muito mais como uma paisagem novamente, então a gente vê pouco o sujeito camponês nas telas. Passamos a ver apenas no documentário, principalmente nos anos 60 e 70, mas na ficção a gente não vê essa representatividade.”

Luara aponta como um marco para história do MST o lançamento do filme “porque a gente coloca o sujeito camponês como central tanto na luta pela terra como no cinema. E é um filme feito pelo próprio movimento camponês. Ou seja, o filme e a sua construção se coloca como muito importante por conta desse protagonismo em muitas frentes”, explica.

Fantasma Ronda o Acampamento é uma ficção produzida pelo MST. Foto: Divulgação MST

O debate sobre o protagonismo camponês nas telas ocupa a centralidade do trabalho desenvolvido pela BAEC no MST. A brigada surgiu com este nome em 2014, durante o 6º Congresso Nacional do MST, em homenagem ao grande cineasta Eduardo Coutinho, falecido naquele mesmo ano.

Desde então, diversas atividades foram se somando às experiências do MST, como foi o caso do projeto Cinema na Terra, iniciado em 2005, que tinha como objetivo a criação de espaços de exibição e debates sobre cinema em acampamentos, assentamentos, centros de formação, reuniões e encontros. A Mostra de Cinema na Terra: A Conquista das Telas, que é uma ação inspirada nessa iniciativa anterior, apresenta um acúmulo político de organização popular, estético, técnico e de luta do MST nas telas.

O filme “Um Fantasma Ronda o Acampamento” fecha as atividades da Mostra com um bate-papo com autora do livro e a exibição do filme. Quem não puder assistir ao vivo a estreia, o filme ficará disponível por uma semana nas redes do MST.

*Editado por Fernanda Alcântara

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