Por Diogo Magri, compartilhado de El País –
Estruturas esportivas do país são recrutadas pelas autoridades para auxiliar no atendimento médico durante a pandemia da Covid-19
No próximo dia 1 de abril, a Prefeitura de São Paulo inaugura um hospital de campanha no estádio Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu, na região central da cidade. O complexo municipal, que está sob administração privada desde o ano passado, foi requisitado pela administração para a instalação de 200 leitos que estarão disponíveis para pacientes de baixa complexidade diagnosticados com o novo coronavírus, com o objetivo de intensificar o combate à Covid-19 na cidade, epicentro da doença no Brasil, com 1.517 casos e 113 mortes contabilizados na última segunda-feira. Enquanto os campeonatos do Brasil estiverem paralisados pela pandemia, o Maracanã, o Morumbi e outros estádios do país receberão mais máscaras e aparelhos do que bolas e chuteiras.
No Pacaembu, foram instaladas duas tendas, cada uma de 6.000 metros quadrados, em cima do gramado do estádio. “É um hospital de retaguarda”, explicou o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, em coletiva na semana passada. “As pessoas virão para passar o período de 10 a 14 dias e, após se estabilizarem, serão mandadas para suas casas”. Caso o quadro do paciente se agrave, ele será direcionado para um hospital de referência. Quem fará a gestão e operação será o Hospital Albert Einstein, que está contratando médicos, fisioterapeutas, nutricionistas, farmacêuticos, auxiliares de farmácia, psicólogos, técnicos de raio-x e profissionais de apoio, a princípio com um contrato de três meses, que pode ser prorrogado. Enquanto o hospital de campanha funcionar, todo o complexo esportivo do Pacaembu permanecerá fechado para o público.
O Maracanã, estádio mais simbólico do Brasil, segue o mesmo destino. Lá, o Governo do Rio de Janeiro está construindo um hospital de campanha com 400 leitos para ampliar a capacidade de atendimento no Estado. A diferença para o estádio paulistano é que, no Maracanã, a estrutura provisória está sendo construída onde ficava o estádio de atletismo Célio de Barros, e não sobre o gramado do estádio de futebol. O estádio carioca recebe frequentemente partidas de futebol de Flamengo e Fluminense, ao contrário do Pacaembu, que recebe poucos jogos de Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos, uma vez que os quatro têm suas arenas particulares.
Fora de Rio e São Paulo, o estádio Presidente Vargas, em Fortaleza, e o estádio Canarinho, em Boa Vista, também já começaram a ser ocupados por hospitais provisórios que ajudarão no atendimento aos pacientes infectados pela Covid-19. Na capital de Roraima, o Governo estadual decidiu que 120 leitos de enfermaria serão transferidos do Hospital Geral de Roraima para o campo de futebol; assim, o HGR atenderá apenas casos suspeitos do novo coronavírus. Já o Presidente Vargas em Fortaleza receberá 204 leitos da Prefeitura voltados para o atendimento da Covid-19. Mas, a exemplo do Pacaembu, não terá a estrutura de uma Unidade de Terapia Intensiva e servirá aos casos de baixa complexidade.
Nas últimas semanas, alguns clubes de futebol ofereceram suas estruturas às autoridades públicas para aumentar a capacidade de atendimento dos hospitais locais durante a pandemia. Bahia, Athletico Paranaense e São Paulo puxaram a fila ao colocarem suas propriedades privadas à disposição, entre estádios, como o Morumbi, que fica ao lado do Hospital Albert Einstein, e centros de treinamento, como os de Santos, Atlético Mineiro, Botafogo e Goiás. O Palmeiras, com o Allianz Parque, o Corinthians, com a Arena Corinthians, também foram clubes que seguiram o exemplo. No entanto, em nenhum desses locais foram iniciadas as construções de hospitais de campanha até o início desta semana.