Dobra o número de chacinas durante intervenção no Rio, aponta observatório

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Por Vinícius Mansur, do Brasil de Fato, publicado em Jornal GGN – 

Com intervenção militar, tiroteios de fevereiro a abril aumentaram 15%

Generais das forças armadas saúdam Michel Temer durante comemoração do Dia do Exército - Créditos: Marcos Corrêa / PR
Generais das forças armadas saúdam Michel Temer durante comemoração do Dia do Exército / Marcos Corrêa / PR

Dois meses após o início da intervenção federal e militar no Rio de Janeiro, os resultados para a segurança pública são negativos: aumentaram os tiroteios, os casos de chacina e o número de pessoas mortas. Essa é a conclusão do relatório lançado nesta quinta-feira (26) pelo Observatório da Intervenção, projeto coordenado pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), da Universidade Cândido Mendes.




Compilando dados de diversas fontes, o observatório aponta que desde o início da intervenção, em 16 de fevereiro deste ano, até 16 de abril, foram registrados 1.502 tiroteios no Rio de Janeiro. Um crescimento de 15.6% com relação ao mesmo período do ano anterior, quando se registram 1.299.

Já os casos de chacina duplicaram. Foram 12 durante a intervenção, resultando em 52 mortos, contra 6 no mesmo período do ano anterior, que geraram 22 vítimas.

“Esses dados todos juntos, para nós, são suficientes para a gente afirmar que nenhuma política de segurança vai ter sucesso ou vai trazer um mínimo de resultado aceitável, no caso do Rio de Janeiro, se ela não for baseada na redução dos tiroteios, dos homicídios, das balas perdidas, do fogo cruzado, da diminuição de circulação de armas na cidade do Rio de Janeiro”, afirmou a coordenadora do observatório, Silvia Ramos.

Com relação a homicídios, o Rio de Janeiro registrou 940 casos em fevereiro e março de 2018, um aumento de 3,4% em comparação aos dois meses anteriores à intervenção; houve, porém, redução de 6,2% em relação ao mesmo período de 2017, quando foram registrados 999 homicídios.

Ao todo, o observatório mapeou a realização de 70 operações feitas pela intervenção, nas quais foram utilizados mais de 40 mil agentes, registradas 25 mortes e apreendidas 140 armas.

Silvia Ramos destacou que os números reforçam o forte cunho político da intervenção e o seu caráter improvisado. A equipe do general Braga Neto, que comanda este processo, estimou custos na ordem de R$ 3,1 bilhões, sendo R$ 1,6 bilhões para quitar dívidas e R$ 1,5 bilhões para as ações de 2018. Entretanto, a pesquisadora alertou que, até o momento, os interventores ainda não divulgaram como e onde irão gastar essa verba e quais são as metas a serem atingidas.

“O que nós estamos mostrando é que [a intervenção] não só não resolveu, os resultados são muito ruins depois desses dois meses, mas nós estamos mostrando os problemas novos que isso traz”, disse Ramos.

Observatório da Intervenção

A divulgação do relatório também marcou o lançamento do site do Observatório da Intervenção, onde é possível visualizar operações e violações aos direitos humanos em um mapa, rankings dos bairros com mais ocorrências, a cronologia dos principais fatos da intervenção, documentos oficiais relacionados, notícias e artigos assinados por pesquisadores e lideranças sociais.

O projeto reúne um banco de dados alimentado por pesquisadores do CESeC a partir da pesquisa em jornais impressos e online, mais de 200 páginas e perfis de redes sociais, bases de dados oficiais e informações colhidas pelas iniciativas parceiras DefeZap, Fogo Cruzado e Onde Tem Tiroteio (OTT) RJ.

O Observatório da Intervenção é uma iniciativa apoiada por uma rede de 20 instituições públicas e privadas, além de contar com um conselho de 20 ativistas de bairros da periferia da Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

Edição: Diego Sartorato

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