Em ‘Janis: Little Girl Blue’, Amy J. Berg apresenta a mulher por detrás de um dos maiores ícones do rock’n’roll: o bullying, o abuso de drogas e a solidão que levaram a cantora há 46 anos
Blue, do inglês, pode significar simplesmente a cor azul, mas também um estado melancólico e de tristeza. É exatamente este último o sentido da palavra no título do documentário Janis: Little Girl Blue, que estreou esta semana no Brasil. Muito além do furacão Janis Joplin dos palcos e da rainha do rock, como a cantora era conhecida, havia uma “menininha triste” que, por um tempo, encontrou refúgio na música.
Com um roteiro excepcional e um começo encantadoramente simples, o filme da diretora americana Amy J. Berg traz inúmeras imagens de arquivos (algumas inéditas até então), correspondências pessoais, desenhos e entrevistas concedidas por Janis, além de depoimentos atuais de amigos, companheiros de trabalho e familiares da cantora.
Ao todo, Amy levou sete anos para concluir este longa-metragem biográfico que acompanha a vida de Janis Lys Joplin desde a infância, na cidade natal de Port Arthur, no Texas, quando ainda sonhava em ter um corpo de modelo e uma cara sem espinhas para tentar se adequar ao extremo conservadorismo local. Mas ela era diferente demais de todos os colegas de classe e este acabou se tornando seu maior pesadelo: as intimidações e a solidão encarnaram na menina desde cedo.
Foi com a música que Janis Joplin encontrou pela primeira vez a aceitação dos outros. Na abertura do filme, a voz off de Janis responde a uma jornalista sobre o porquê cantava: “Porque eu posso sentir coisas diferentes. É divertido. Sentimentos que não encontraria indo a festas o ano todo ou saindo com todas as pessoas que gostaria. Você sente coisas que estão na sua mente e sabe que são de verdade. É por isso que eu gosto da música, porque vem de dentro e traz sentimentos.” O mundo exterior não costumava ser gentil com ela, por isso fez da música sua válvula de escape.
Janis: Little Girl Blue humaniza um mito de toda uma geração, uma das primeiras mulheres a penetrar e brilhar no até então masculino universo do rock’n’roll, uma mulher fora do comum que tinha ares de fortaleza em cima dos palcos, mas que, na verdade, era frágil como um cristal na vida real. “Vocês não têm ideia de como é difícil ser eu”, dizia às pessoas mais próximas.
Porém, Janis não parecia temer dividir seu mundo nas letras autobiográficas. O medo a invadia quando os aplausos silenciavam, as luzes se apagavam e quando seus músicos, todos acompanhados por garotas, a deixavam sozinha. Desde cedo, a solidão tinho sido sua pior inimiga e foi, provavelmente, quem lhe abriu as portas de um outro universo: o das drogas, que a levaram à morte aos 27 anos de idade.
Apesar de toda a atmosfera blue, não se trata de um filme sombrio. Ao contrário. Há leveza mesmo na tristeza e na solidão. E há também muita música e a boa energia que Janis Joplin liberava nos palcos, além uma menção sobre sua passagem pelo carnaval do Brasil e suas viagens pelo Nordeste.
Janis: Little Girl Blue
Roteiro e direção: Amy J. Berg
Narração: Chan Marshall
Música: Joel Shearer
Fotografia: Francesco Carrozzini
Montagem: Billy Mcmillin, Garret Price, Joe Beshenkovsky
Produtores: Alex Gibney, Amy J. Berg, Jeff Jampol, Katherine LeBlond
País: EUA
Duração: 107 minutos
Ano: 2015