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Prédio abandonado desde a guerra serve de precário abrigo para os refugiados, que queimam plástico contra o frio, inalando fumaça tóxica
Por Janaína Cesar | ODS 10, ODS 11 • Publicada em 14 de abril de 2021 – 08:28 • Atualizada em 14 de abril de 2021 – 17:01
No extremo noroeste da Bósnia, no “canton” de Una Sana, região próxima à fronteira com a Croácia, a situação dos imigrantes é desesperadora. Aqui encontram-se as cidades de Ostrozac – onde está Amir -, Velika, Kladusa, Miral e Bihać. Em meio ao silêncio das montanhas que as circundam, em abril de 2020, foi erguido, a toque de caixa, o campo de refugiados de Lipa para enfrentar a emergência da covid-19. Com a mesma velocidade, oito meses depois, em 23 de dezembro, o lugar foi destruído por um incêndio e milhares de imigrantes ficaram sem ter para onde ir. Naquele mesmo dia a OIM, responsável pelo campo, anunciava o fechamento do local porque não era “adequado para hospedar pessoas”: faltava água, saneamento básico e comida.
Os “desgraçados” de Lipa se somam às centenas de outros refugiados que não encontram lugar nos campos do governo ou da OIM e acabam indo parar em barracas de plástico preto erguidas em meio à floresta ou velhas construções abandonadas nas cidades.
No centro de Bihać, cerca de 200 pessoas tentam se proteger do frio em um prédio abandonado nos tempos de guerra. Conhecido como Dom, seria um lar para idosos, mas nunca foi concluído. O perigo é latente para os que vivem sob esse teto sem porta nem janela. Talvez, por isso, não tenha crianças e mulheres vivendo aqui. Os homens, que têm entre 21 a 35 anos, se organizam para que o campo improvisado, caindo aos pedaços, não despenque de vez em suas cabeças. O lugar mais parece um aterro: o lixo divide o espaço com seres humanos.
Como ratos de laboratório, eles dormem amontoados em pequenos espaços mais fechados para tentar se proteger do frio. Os cobertores são usados para forrar o chão de cimento e os mais sortudos queimam o que ainda resta da madeira doada por ativistas dos direitos humanos. Os menos afortunados queimam plástico e enchem os pulmões de dioxina, substância altamente cancerígena. O fogo é usado não só para o aquecimento, mas também para preparar comida em grandes latões, que substituem as panelas. A miséria impera no Dom, e é impossível mandá-la embora. Além de comida e roupas, essas pessoas precisam, principalmente, de remédios e cuidados médicos.
No bar de um vizinho posto de gasolina, na periferia de Bihać, Gianni, um senhor aposentado, toma um café e conversa com outros dois amigos. Do outro lado da rua, em frente a um terreno baldio, um grande cartaz onde se lê “No Camp”. Gianni diz que os habitantes de Bihać estão cansados dos problemas causados pelos refugiados. “Eles ficavam espalhados pela cidade, faziam baderna até que o governo mandou todos para Lipa”, conta, referindo-se ao campo que pegou fogo ano passado. Bósnio, sabe um pouco de italiano dos tempos em que foi caminhoneiro. “É um desastre, é tudo um jogo político”.