Dona Joaquina, a feira livre e a vida que vai indo

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Por Guilherme Meirelles, jornalista, no Facebook

Moro há 22 anos em uma rua de feira, com poucas barracas, daquelas em que você sai de casa e ouve um bom dia de todos os feirantes enquanto caminha. É uma tremenda comodidade comprar frutas e verduras na porta de casa. Eles chegam de madrugada e silenciosamente montam os seus pontos, os cachorros da rua sequer acordam .




Uma das barracas de hortaliças é a da dona Joaquina, uma senhora enrugada, lépida, sempre com os olhos acesos. Nunca perguntei a sua idade, mas imagino que esteja beirando os 80 anos. Sei apenas que mora na zona rural de Salesópolis e que trabalha seis dias por semana vendendo os seus pés de alface, de couve, agrião e temperos frescos nas feiras paulistanas.

Ontem, percebi que a dona Joaquina estava amuada, com os olhos vermelhos.  Perguntei a ela se estava tudo bem, e ela fez aquele gesto de virar a mão de um lado para o outro. “A vida vai indo”, disse.

– Mas, o que aconteceu, dona Joaquina?
– Perdi dois filhos na semana passada.
Imaginei algo ligado à violência.
– Mas, como?
– De pneumonia, um de 62 anos e a outra, com 58, disse, ao mesmo tempo em que limpava um maço de coentro e salsinha.

A vida vai indo.

 

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