Por Maria Christina Ferreira (Cristina Buarque) –
Lá pros 1975 vim eu de São Paulo cantar num evento cheio de gente, acho que Teatro Casa Grande. Fui ali apresentada ao Monarco, da Velha Guarda da Portela, pelo meu compadre Carlinhos Vergueiro.
https://youtu.be/ZHNa39scwec
E Monarco foi no orelhão, ligou pro Manacéia, combinou um peixe lá em Madureira dia seguinte.
E fui eu com Carlinhos compadre, Monarco de guia, 24 de Maio afora.
Rua Dutra e Melo, travessa da Estrada do Portela, que me recuso a escrever Estrada da Portela.
Lá fui recebida de braços abertos (no tempo que tinha disso) por Manacéia, a quem fui apresentada ali no portão.
(Eu havia gravado o samba dele – Quantas Lágrimas -, o samba começou a tocar nas rádios, eu não o conhecia, ele não me conhecia).
Passando pela sala, chegando à cozinha, fui apresentada àquela senhora baixinha, olhar firme, voz grossa enérgica e, ao mesmo tempo doce: Dona Neném.
Dona Neném comandava a cozinha com as filhas, cunhadas, monte de gente, na produção do divino peixe.
No quintal, aquelas mesas de ferro da Brahma e Antártica, talvez Skol, a Velha guarda da Portela todinha, que naquele tempo tinha disso.
Com certeza foi a tarde mais bonita e mais emocionante dessa minha loooonga vida, os sambas cantados e tocados como era naquele tempo, o andamento na cadência, o respeito pra escutar, o silêncio pra aprender, o peixe dos deuses, Dona Neném, preocupada pra que tudo desse certo, copos não podiam esvaziar, a equipe ali atenta, o samba rolando.
Depois disso, algumas vezes Manacéia me ligava:
“Cristina, a Neném vai fazer uma galinha com quiabo…”
Aí eu pegava o trem noturno. Lembro de uma vez que vim com a filha mais velha e cheguei todinha mijada, que naquele tempo era fralda de pano, mas deu-se um jeito. Outras vezes fui com a penca de filhos, já morando aqui no Rio.
Pois hoje, 19/03, essa criatura baixinha, olhar firme, memória das melhores, amorosa, cervejeira, completa hoje 95 anos.
Viva ela!!!