Por Camilo Vannuchi, no Facebook –
Lá pelos meus 10 anos, ouvi pela primeira vez o nome desse senhor. “Você sabia que o Lula mora de favor na casa de um advogado, o Roberto Teixeira?”, diziam em tom acusatório, ora para demonstrar que alguma falcatrua deveria haver, ora para pintar o candidato do PT como um vagabundo, que nunca trabalhou e era sustentado pelas mordomias que os comparsas lhe ofereciam.
Diziam também que ele, o Lula, morava numa mansão no Morumbi, embora a tal casa do advogado fosse na rua São João, a uns 700 metros do sindicato, ali mesmo em São Bernardo do Campo. Estive uma única vez nessa casa, em 1989, na qual o candidato a presidente e sua família encontraram espaço e segurança que não tinham na casa que era deles, onde a janela ficava a apenas três metros da calçada, sem muro, e onde sequer havia uma sala ou escritório onde Lula pudesse fazer reunião. Fui também, uma vez, ao apartamento onde Roberto morava naquele período, meses antes da eleição, quando ficou sozinho no Brasil enquanto a esposa acompanhou as duas filhas numa temporada de três anos de estudo nos Estados Unidos.
Desde o início do ano passado, tive a oportunidade de encontrar Roberto Teixeira algumas vezes. Hoje devo ter feito a terceira entrevista com ele. Embora nossas conversas girem sempre em torno de Marisa e Lula, tenho enorme curiosidade para saber mais sobre ele e sobre as origens dessa relação tão rica e longeva, que começou antes mesmo da fundação do PT, quando Roberto presidia a OAB de São Bernardo, e Lula, o Sindicato dos Metalúrgicos.
A sede do primeiro diretório do PT, em São Bernardo, foi Roberto quem providenciou. Em 1982, foi ele quem fez o processo para adicionar o apelido Lula ao nome de Luiz Inácio da Silva, a tempo de evitar a anulação dos votos que fossem atribuídos a Lula numa época em que as cédulas eram de papel e cada eleitor precisava escrever os nomes de seus candidatos. Em 1984, Marcos Cláudio, o primogênito de Marisa, foi adotado formalmente por Lula. Adivinha quem cuidou disso?
Também em 1984, quando Lula e Marisa levaram o pequeno Sandro para fazer exames em Cuba, Marcos e Fábio ficaram uma semana sob a responsabilidade de Roberto e Elvira, no sítio de Monte Alegre do Sul. Marisa voltou grávida de Cuba. Adivinha quem foram os padrinhos de Luís Cláudio em 1985? Naquele mesmo ano, Fábio e Sandro também incorporaram o sobrenome Lula, que já havia sido incluído no nome de Marcos por ocasião da adoção. Obra de quem?
São 40 anos de estreita convivência. Respeito, admiração, caráter e afeto. São crianças que cresceram juntas, as de um e as de outro. Quando me deparo com comentaristas de Facebook que não percebem a dimensão do que é um sonho que se sonha junto, do que é a construção de um partido de massa, nascido do povo e com o povo, criado para inventar um projeto de país, fico pensando nesses 40 anos que se passaram entre a explosão do novo sindicalismo e a recente prisão do Lula.
Quando esses comentaristas questionam as razões que levaram o presidente a querer ser defendido pelo escritório de Roberto Teixeira, na figura dos sócios Valeska e Cristiano, filha e genro, que sequer tinha o direito criminal como especialidade, penso nesses 40 anos. Quando olho pro lado e vejo Valeska e Larissa, companheiras de geração, firmes na defesa de um projeto, uma história, um legado e uma ideia inauguradas lá atrás, por nossos pais e mães, e encontro Marcos, Lurian, Fabio, Sandro e Luís Cláudio, penso nesses 40 anos.
Penso também naquele aforismo atribuído a Hemingway (nunca chequei), segundo o qual saber quem está ao nosso lado na luta é tão ou mais importante do que a própria luta. E penso, com uma esperança teimosa, nas últimas frases de uma crônica escrita por Lourenço Diaféria às vésperas do primeiro julgamento de Lula na auditoria militar, em 1980: “Meu caro operário sentado no banco dos réus, por favor, recebe este recado: Se existir mesmo essa senhora difusa e vaga a que chamam Justiça, confia nela. Não creio que essa matrona seja cega.”
Obs.: título do Bem Blogado