Doutor Sócrates, o filho do vendedor de rapadura

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Nunca houve um jogador como Sócrates.

Por Tom Cardoso, compartilhado de Construir Resistênia




Sócrates e seu Raimundo

Primeiro, claro, pelas razões conhecidas: um dos poucos a exercer uma posição política dentro e fora de campo.

Mas há outros aspectos surpreendentes.

O cara media 1,91 e calçava 38. Magérrimo, com pé de bailarina, parecia com qualquer coisa, menos com um jogador de futebol.

Por conta disso, a maneira com que jogava também passou a ser original. Para eliminar o esforço de girar o corpo, erguer a cabeça e fazer o passe, ele passou a abusar dos toques de calcanhar, a principal marca.

O que torna sua trajetória ainda mais interessante é a origem familiar.

Seu pai, o vendedor de rapaduras Seu Raimundo, tinha como principal hábito ler, à luz de um lampião de gás, clássicos da filosofia

Sua obsessão por filosofia grega explica a origem do nome de seus três primeiros filhos: Sócrates, Sóstenes e Sófocles.

Raí, o caçula, só escapou de ser chamado de Xenofonte, o discípulo de Sócrates, porque a esposa, Dona Guiomar, ameaçou o marido com o divórcio.

Seu Raimundo, um autodidata, conseguiu passar no concurso mais difícil do país – o de Fiscal do IBGE, com apenas 16 vagas – e mudar a história da família.

Isso também explica a razão pela qual Sócrates só foi estrear num time grande com 24 anos, numa época em que os jogadores atuavam, em média, até os 30 – Seu Raimundo exigiu que ele se formasse, primeiro, em Medicina.

Em 1975, obrigado a fazer uma prova prática, perdeu o ônibus que levaria o seu time, o Botafogo de Ribeirão Preto, a São Paulo, onde enfrentaria o Corinthians.

Sócrates chegou ao Pacaembu ainda com o jaleco de médico, faltando dez minutos para começar a partida.

Como ninguém o deixou entrar, comprou o ingresso.

O time entrou em campo sem ele. O preparador físico o avistou no alambrado, gritando, desesperado.

Sócrates colocou o uniforme e as chuteiras faltando dois minutos para começar o jogo e mesmo assim, exausto, ainda marcou o único gol do Botafogo na derrota por 4 a 1.

Quem quiser adquirir a biografia do Doutor diretamente com o autor é só dar um alô no Facebook dele.

Tom Cardoso é jornalista, escritor e crítico musical

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