Por Marcelo Auler, em Seu blogue –
Oficialmente, o release distribuído pela Procuradoria da República do Paraná e também pelo Departamento de Polícia Federal (DPF) a respeito da 32ª Fase da Operação Lava Jato, desencadeada na manhã desta quinta-feira (07/07) não cita nomes. Fala apenas que a Operação Caça Fantasma tem como alvo o banco panamenho FPB, com atuação ilegal dentro do Brasil e que estaria patrocinando a abertura de offshores no exterior, através da Mossak Fonseca. Na entrevista coletiva terminada há pouco, foram categóricos em não fazerem relação alguma, a não ser o vínculo de parentesco.
Já os jornais e sites que se alimentam diretamente de vazamentos feitos pela Força Tarefa da Lava Jato avançam na identificação do responsável pelo banco.
“Um dos alvos da operação é Edson Paulo Fanton, que é representante do banco panamenho que atuava no Brasil. Ele será ouvido em Santos“, disse O Globo on line, na sua primeira postagem.
“O principal alvo é Edson Paulo Fanton, que seria o responsável pelo FPB Bank, uma instituição bancária do Panamá que atuaria clandestinamente no Brasil. Ele foi conduzido coercitivamente para depor e está sendo ouvido em Santos“, afirmou o site da Folha.
“O alvo principal é Edson Paulo Fanton, representante do FP Bank do Panamá, no Brasil, contra quem foi expedido mandados de condução coercitiva e de busca e apreensão. Edson Fanton é parente de um delegado da Polícia Federal“, avançou o Estadão.
“Edson Fanton, representante do banco panamenho FPB, alvo da Operação Caça-Fantasmas, é tio do delegado da PF Mário Renato Castanheira Fanton, que acusou os delegados da Lava Jato de terem instalado um grampo ilegal na cela do doleiro Alberto Youssef”, escancarou o site O Antagonista, onde a nota é intitulada : “Os fantasmas da Banda Podre da PF”.
Mas, ao contrário do que o site fala, não foi o delegado Mario Renato Castanheira Fanton quem acusou os delegados da Lava Jato. Ele apenas ouviu os depoimentos e juntou documentos. O autor da denúncia – até hoje não esclarecida publicamente pela direção geral ou corregedoria do DPF – foi o agente que instalou o aparelho, Dalmey Fernando Werlang. E o que ele falou foi endossado por outra agente, Maria Inês. Fanton simplesmente tomou a termo seu depoimento e encaminhou-o as autoridades de Brasília.O grampo na cela – Na verdade, Edson Fanton é um dos quatro gerentes do banco que foram alvos da operação. Mas o nome deles foi o único a ser vazado. Queira-se ou não, fica evidente que a Operação Caça Fantasmas tem o seu lado obscuro neste episódio de vincular um dos responsáveis pelo banco ao delegado federal que, cumprindo uma missão, levantou a história do grampo ilegal na cela do Yousseff como plantado a mando da cúpula da Superintendência Regional do Departamento de Polícia Federal do Paraná (SR/DPF/PR).
A versão oficial dada pela Força Tarefa da Lava Jato, incluindo delegados e procuradores, aceita sem contestação pelo juiz Sérgio Moro, e hoje reprisada na entrevista coletiva, era de que além de antigo, estava desativado e não interferiu nas provas da Operação em si. Não é o que se comenta pois como este site já noticiou em 12 de de outubro, há muito tempo – Surgem os áudios da cela do Youssef: são mais de 100 horas , existiu e funcionou. A sindicância que teria concluído isto, feita pelo insuspeito delegado Alfredo Junqueira, da Coordenadoria de Assuntos Internos (Coain) da Corregedoria do DPF, pelo que se comenta no Paraná e em Brasília, já estaria em poder do juízo e do Ministério Público Federal. Mas todos teimam em mantê-la sob sigilo.
Pode ser que procuradores e delegados mostrem como foi que chegaram ao banco panamenho e à figura de Edson Paulo Fanton. Mas, dificilmente se afastará a suspeita de que a investigação começou em torno do delegado Fanton. Havia um desejo explícito de queimá-lo, para derrubar os resultados de sua investigações.
É verdade que na entrevista o delegado Igor Romário de Paulo afastou a possibilidade de envolvimento do delegado Fanton com os negócios de seu tio. Mas o nome dele foi jogado na imprensa, como mostra a nota do Antagonista. Mais uma vez, queimou-se reputações.
Há alguns meses, este blog recebeu a informação de que equipe da Lava Jato tinha chegado ao pai de Mario Fanton como dono de offshores no Panamá. Isto foi uma demonstração inequívoca de que o delegado era alvo de seus colegas da Lava Jato. Tratava-se de uma investigação em curso e sobre ela nada comentei nem nada publiquei. Passaram-se meses e veio a explicação que não era pai, era o tio. O pai, na verdade, é construtor em final de carreira e jamais negociou com órgão público. Até esqueci do caso.
Fanton deixou claro em um comentário postado hoje na rede social que não tem relações próximas com o tio:
“Caros amigos do face. Hj um tio meu muito distante foi conduzido coercitivamente pela operação lava jato e meu nome foi muito citado como sendo ele meu parente e porque eu participei da lava jato e soube de muitas irregularidades nela cometidas e levei para apuração na instancia superior do DPF e MPF. Diante disso fui acusado de ser dissidente da operação lava jato, o que eh mentira, pois a admiro muito e zelei pelo seu sucesso.
Quanto ao fato envolvendo meu tio hoje, tenho a esclarecer:Eu não sei da vida dele e não o vejo quase nunca, mas se ele fez algo errado sou o primeiro a dizer que ele responderá pelo que fez. Minha postura é de muito respeito pela instituição DPF e MPF e nunca agi para beneficiar ou prejudicar ninguém fora dos ditames legais. Se qualquer parente meu estiver envolvido em ilícitos, deverá responder igualmente como qualquer suspeito nos rigores da lei.“.
Outras irregularidades – As investigações do delegado Fanton, convocado da Delegacia de Bauru para Curitiba pelo Delegado Regional de Combate ao Crime Organizado (DRCOR), Igor Romário de Paulo, por indicação do delegado Maurício Moscardi Grillo, não desbaratou apenas a questão do grampo ilegal da cela de Youssef. Ele também descaracterizou a versão apresentada pelo próprio Igor da existência de um dossiê de policiais federais dissidentes para derrubar a Lava Jato.
Por isso, foi afastado das investigações e passou a responder sindicâncias e até inquéritos policiais. Antes de deixar o caso, porém, preparou um extenso relatório no Inquérito 737 mostrando diversas irregularidades naquele feito que, misteriosamente, não está anexado ao mesmo. Mais ainda, ganhou antipatias dentro do DPF, a começar pelo diretor-geral, Leandro Daiello, segundo fontes bem informadas relataram ao blog.
Esta apuração na qual detectou irregularidades, após sua saída, foi entregue à delegada Tânia Fogaça que ao relatar o inquérito, mesmo não descobrindo nenhum dossiê e nenhuma prova de benefício financeiro por parte dos envolvidos – o delegado Paulo Renato Herera, o ex-agente Rodrigo Gnazzo e os advogados Mardén Maués e Augusto Arruda Botelho – indiciou-os por crime de corrupção. Para ela, iria ocorrer uma corrupção imaterial, já que o ganho seria atingir e derrubar a cúpula da Superintendência Regional do DPF no Paraná.
O caso hoje tramita na 14ª Vara Federal de Curitiba, com o juiz Marcio Josegrei da Silva que,, atendendo ao pedido do Ministério Público Federal, deu prazo para novas diligências. Mas agora,, vai merecer maior atenção, até por ter servido de mote para queimarem a reputação de um delegado federal. Ainda que este não tenha sido o objetivo principal da operação.