Por Washington Luiz de Araújo, jornalista, Bem blogado
O Bem Blogado ouviu duas brasileiras moradoras na Europa, que pediram para não serem identificadas.
A primeira é uma enfermeira que mora em Roma, capital do país europeu que mais tem sofrido com o coronavírus. Ela, que trabalha com idosos, relata os procedimentos e as preocupações para que a contaminação seja controlada.
Sobre o seu país, a enfermeira afirma: “Eu sinto muito que no Brasil as coisas estão paradas, que não perceberam o perigo, pois poderiam já começar a trabalhar na prevenção, que é a única coisa que se pode fazer contra esse vírus.”
A segunda pessoa ouvida pelo Bem Blogado é uma jornalista que mora numa cidade do interior da Inglaterra. Ela relata que o governo inglês ainda não tomou providências profundas quanto à prevenção do coronavírus e fala da “guerra” por produtos, até papel higiênico, que já se iniciou nos supermercados da cidade onde mora.
“Está deprimente, depressivo. Recentemente, o Boris Johnson, fascista, ridículo, absurdo, horroroso, tem mentido, tem dado informações contraditórias. O governo está mentindo, não está passando a quantidade certa de pessoas contaminadas e, por causa disso, está dizendo que não precisa de “lockdown”, que não precisa fechar nada e está se recusando a tomar qualquer outro tipo de medida.”
Relato de uma enfermeira brasileira, moradora em Roma
“Aqui está tudo parado, fechado, os restaurantes estão fechados, cinema, teatro, tudo.
Sou enfermeira profissional, trabalho numa cooperativa e vou falar certas coisas que estão acontecendo, que, pra mim, são absurdas.
Eu sou enfermeira domiciliar, já há muitos anos aqui na Itália. Acontece é que, no momento, não têm, praticamente, material para dar para nós. Equipamentos de prevenção, como máscaras, eles me deram cinco para utilizar esse mês e me falaram que, como eu não tenho pacientes com problema de insuficiência respiratória, não tendo que usar o aspirador, eu não precisaria usá-las.
E saiu uma nota aqui que, mesmo se nós formos contagiados, mas que não tenha sido constatado como se eu tivesse o coronavírus, eu teria que continuar trabalhando. Quer dizer, espalhando o vírus. Isso é uma coisa ridícula, absurda.
Mas eu continuo a trabalhar, continuo a usar máscara, não para minha proteção, mas dos pacientes, porque a maioria deles têm 80, 90 anos, dois têm 92.
Então, por questão de responsabilidade minha, para entrar na casa deles, a primeira coisa que faço é não pegar o elevador para não ter que tocar em nada que tenha ferro, porque o vírus fica muito tempo nos metais. Antes de entrar na casa deles, peço para deixarem a porta aberta, para eu não tocar em nada. Abro a torneira com o cotovelo, lavo bem as mãos, mais ou menos um minuto – estou com as mãos acabadas por causa disso – e peço para enxugar no papel toalha. Não uso toalha deles, não uso nada deles.
Já deixo minha mala aberta antes de chegar, pois eu tenho que pegar as coisas que tenho que usar para fazer as medicações. Lavo as mãos, abro a mala, tiro as coisas que eu preciso, vou lá e lavo minhas mãos novamente e, aí, uso as luvas.
Troco de luvas constantemente, porque tocando material biológico deles, tocando nas gases, eu tenho medo de contaminá-los.
Uso do mesmo procedimento para sair: lavo as mãos, fecho a torneira, me abrem a porta e saio.
A única coisa que eu recomendo a todos os pacientes e familiares é que saia um só para ir ao supermercado e farmácia. E essa pessoa, quando volta para a casa tem que usar a máscara. A maioria das famílias, 90%, está se comportando desta forma.
Os ônibus estão funcionando só até às 21 horas. Os parques públicos foram fechados, mas eu acho que deveriam ter fechado antes. Ao mesmo tempo, é uma discrepância, porque as fábricas ainda estão abertas, mas acho que em breve também serão fechadas.
Nas ruas, as pessoas estão mantendo a distância de segurança, ônibus estão todos praticamente vazios e as pessoas estão usando luvas para ir ao supermercado.
Os supermercados distribuem as luvas para as pessoas entrarem e as que trabalham no caixa já usam a máscara e luvas há mais de 10 dias.
A cidade está praticamente vazia, você não vê ninguém caminhando, pouquíssimos carros na rua, parece uma cidade deserta. É o único modo de não transmitir o vírus: fazer as pessoas ficarem em casa, ainda mais as pessoas com mais de 70 anos, porque é muito perigoso.
Na Lombardia, onde o contágio teve início na Itália, que é a região que fica mais ao norte, os hospitais estão cheios. Transferiram, recentemente, 130 pacientes para outras regiões, porque eles não têm mais onde internar. Então, passaram para outras regiões que estão menos afetadas.
Vi a notícia de que eles entraram em contato com a China, Venezuela e Cuba para a vinda de médicos especializados.
A prevenção é ficar em casa, lavar bem as mãos, sair o menos possível, manter distância de um metro de outra pessoa, pedir férias, não ir trabalhar.
A economia da Itália vai cair, está tudo fechado, os restaurantes fechados, a Itália vive de turismo, mas é o único modo de parar o contágio.
Eu sinto muito que no Brasil as coisas estão paradas, que não perceberam o perigo, pois poderiam já começar a trabalhar na prevenção, que é a única coisa que se pode fazer contra esse vírus.”
Relato de uma jornalista brasileira, moradora numa cidade do interior da Inglaterra
“Aqui a coisa, realmente, está atrasada. Eu estava dividida, até outro dia. Achava exagero. Porque aqui deturpam demais as informações de um lugar pra outro.
O povo entra muito em pânico. É um horror, complicadíssimo. O inglês classe média é mascarado, egoísta e mentiroso. Então, ele entra em pânico e vai lá e esvazia as prateleiras dos supermercados, estocando tudo. Um absurdo, o povo brigando por papel higiênico dentro do supermercado. Prateleiras, todas vazias.
Ontem, fui ao supermercado e consegui comprar 12 rolos de papel higiênico e não tinha mais nada. Gel “antibacterial” de lavar as mãos, não tem nada, em lugar nenhum.
Estão vendendo sabonete para lavar as mãos. no mercado negro, no Ebay, por 30 libras
Está deprimente, depressivo. Recentemente, o Boris Johnson, fascista, ridículo, absurdo, horroroso, tem mentido, tem dado informações contraditórias.
O governo está mentindo, não está passando a quantidade certa de pessoas contaminadas e, por causa disso, está dizendo que não precisa de “Lockdown”, que não precisa fechar nada e está se recusando a tomar qualquer outro tipo de medida.
No máximo, ele está passando informações, aconselhamentos de lavar as mãos e também para evitar reuniões grandes, lugares lotados.
Assim, as pessoas continuam levando a vida como se estivesse tudo normal.
O fascista (Boris Johnson) controla tudo e, assim, o povo está sendo manipulado, com informações desencontradíssimas da mídia manipuladora – BBC, um horror -. Os dados não estão certos.
Recentemente, fui na casa de uma amiga, fiquei com três pessoas lá. Hoje fui almoçar com uma amiga num lugar bem vazio, de longe, sem ficar se tocando.
Inevitavelmente, a gente vai ter que se isolar um pouco, para evitar que a coisa fique fora de controle, para evitar que a gente fique doente e use os recursos públicos, que sofreram cortes horríveis e não tem condições de atender todo mundo. Claro, tem que deixar para os mais vulneráveis.”
Foto de um parque público fechado recentemente em Roma