Por Duda Quiroga, compartilhado de O Dia –
Os cargos ocupados por servidores são considerados de Estado, e não de governo. Servem à população e não aos eleitos da última geração
Um fiscal do Ibama que, no governo anti-meio ambiente, ousasse multar autoridades infratoras seria demitido se não tivesse estabilidade. Um auditor fiscal não poderia seguir a lei e negar acesso a dados de adversários políticos dos governantes atuais se não tivesse a garantia do emprego. A Constituição pressupõe um Estado que oferece serviços básicos à população, sejam eles de Saúde, Educação, saneamento, Previdência/Seguridade Social e fiscalização entre outros. Um servidor ser de carreira, concursado, além de garantias na seleção de profissionais com formação específica, contribui para diminuir a incidência de indicações políticas.
Imagine se a cada troca de governo fosse possível mudar os servidores, a rotatividade impediria o desenvolvimento de um trabalho a longo prazo para beneficiar a maioria da população brasileira. Some-se a isso o custo adicional de treinar novos profissionais a todo instante e o tempo perdido a cada reformulação. Se até aqui você não está convencido de que o fim da estabilidade para servidores públicos afetará diretamente a sua vida, mesmo que você seja do setor privado, vamos refletir.
Esta medida faz parte da Reforma Administrativa, nova proposta do governo. Sempre com a promessa de “fazer o país voltar a crescer”, ela vem na sequência da Reforma Trabalhista, do teto de gastos e da Reforma da Previdência. Tanto Temer quanto Bolsonaro diziam que as reformas já aprovadas seriam melhores para o Brasil, que geraria empregos e aqueceria a Economia. O que temos é a Economia em recessão, aumento da miséria e da fome e mais de 14 milhões de desempregados.
A Reforma Administrativa tem ainda um item extremamente nefasto, o modelo de contratação de servidores de forma simplificada, por demanda, sem a necessidade de concurso público com edital amplamente divulgado. Isso favorece os cabides de emprego para “amigos do rei”. Vendida como possibilidade de modernização e diminuição do custeio da máquina pública, a reforma é, na verdade, a institucionalização da precarização na administração, dos serviços públicos, das práticas patrimonialistas, que desde os anos 1930 toda a sociedade tenta combater. Da maneira como está proposta, não podemos permitir a essa reforma pelo bem do Brasil.