É a estupidez, Folha. Inclusive a sua, por Hugo Souza

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“É a economia, Lula”, diz a Folha. “É a economia, estúpido”, diz o bordão criado em 1992 por James Carville

Por Hugo Souza, compartilhado de Jornal GGN




A três domingos do desfecho eleitoral mais nevrálgico talvez da história brasileira, o maior jornal do Brasil resolveu pôr em tintas um editorial que traz, logo no título, um trocadilho entre o nome de Lula e a palavra “estúpido”.https://19a29e7a6c8ef4097e110890ea0770b6.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

por Hugo Souza

Neste domingo, 9, em movimento pouco comum, mesmo em períodos eleitorais, a Folha de S.Paulo publica um editorial como manchete da Folha online e na íntegra na capa da Folha de papel.

Não para marcar posição contra todas as ameaças reais e imediatas de uma eventual recondução do “incumbente” à chefia do poder concreto no Brasil, mas para reforçar a, digamos, “frente ampla” – de farialimers a barãodelimeirers – que vem se formando para vender caro um apoio encabulado à candidatura democrática.

A três domingos do desfecho eleitoral mais nevrálgico talvez da história brasileira, o maior jornal do Brasil resolveu pôr em tintas um editorial qua traz, logo no título, um trocadilho entre o nome de Lula e a palavra “estúpido”.

“É a economia, Lula”, diz a Folha. “É a economia, estúpido”, diz o bordão criado em 1992 por James Carville, que na época era estrategista da campanha presidencial de Bill Clinton contra George Bush.

“Democracia é coisa frágil. Defendê-la requer um jornalismo corajoso e contundente. Junte-se a nós: www.catarse.me/jornalggn “

A título – e bota título nisso, como vimos – de trocar figurinhas com o que o próprio editorial chama de “os estratos que têm os olhos voltados para a liberdade econômica”, a Folha diz que Lula está “obrigado” a anunciar de antemão sua equipe econômica, e que é um “acinte” que não o faça.

Bom mesmo – não é, velha senhora imprensa? – é Jair Bolsonaro, que em 2018 anunciou desde cedo que a economia seria entregue a um pinochetista destrutivo e isto foi o suficiente para a mídia corporativa mimetizar a escalada da extrema-direita.

É curioso aliás, cotejar o editorial “É a economia, Lula” com outro da Folha de S.Paulo, este publicado no dia 29 de setembro de 2018 e intitulado “A hora do compromisso” – que foi a versão Barão de Limeira para o famigerado editorial “Uma escolha muito difícil”, do Estadão, que, aliás, fez aniversário neste sábado, 8.

Naquele editorial da Folha, publicado às vésperas do primeiro turno das eleições 2018, a evasiva para o bolsoguedismo mal disfarçado do jornal era cobrar “dos dois líderes nas pesquisas” – Bolsonaro e Haddad – compromisso com a Democracia e a liberdade de imprensa.

Que os ataques à Democracia e à liberdade de imprensa partissem de apenas um dos candidatos, e que o outro representasse um partido que havia governado quase 14 anos sem ataques à Democracia e à liberdade de imprensa, tudo isso era apenas mero detalhe.

Um detalhe olimpicamente ignorado em meio à eterna e forte crise alérgica da mídia corporativa diante da ideia do campo popular sentado às mesas decisórias, mesmo em lugares secundários.

Diante da ideia do fascismo, pelo visto, uma aspirina continua resolvendo a questão. Na Barão de Limeira, porém, vai correr muito remédio de tarja preta quando Damares Alves sentar na cadeira da presidência do Senado e começar a acolher pedidos de impeachment de ministros do Supremo, votar a criminalização do Datafolha e pautar projetos não exatamente democráticos, mas fascistas, de regulação da mídia.

Quatro anos depois do editorial “A hora do compromisso”, em cenário sem margem para questionamentos ao caráter democrático da candidatura do PT, arranja-se, mesmo que isto signifique, depois de tudo, seguir especulando com o fascismo, arranja-se, dizíamos, outro subterfúgio. Ou melhor, retorna-se ao de sempre: é a economia, estúpido.

Mesmo que não haja mais cristalina sinalização para o que a Folha exige do que Lula repetindo a todo momento que, se eleito, o que virá não será um governo Lula, mas um “governo Lula-Alckmin”.

Não quatro anos, mas quatro páginas depois do editorial “É a economia, Lula”, Janio de Freitas diz, neste domingo, na mesma Folha, que mais idiota do que seria Lula cair na exigência de apontar desde já seu ministro da Fazenda, mais idiota do que isso é a própria exigência.

“A pobreza mental e moral desse empresariado que age na política só por interesse direto, dominado por ganância e egoísmo patológicos, é responsável por grande parte das desgraças que assolam o país”.

O título da coluna de Janio de Freitas é: “Exigência de nome de Lula para Economia é pretexto para apoiar Bolsonaro”.

Não é, portanto, a economia; é a estupidez, Folha. Inclusive a sua.

Hugo Souza é jornalista

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