E o Maduro? E o Lula, hein? Ou nos reinventamos ou morremos

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Por Roberto Ponciano, escritor, filósofo e professor


Não faz nem um mês direito que a imprensa dita democrática se refestelava num espetáculo ridículo, celebrando a subida ao trono de um velho gagá, de uma monarquia construída sobre o sangue, suor e lágrimas da América Latina, Ásia e África. O império no qual o sol nunca se põe foi uma sucessão de invasões, guerras, genocídios, golpes, saques, roubos, chantagens, apoios a ditaduras; no entanto, é celebrando como um “exemplo de civilização pela imprensa ocidental”.




Da imposição de um estatuto colonial à força à Irlanda, à acumulação primitiva do capital feita com o tráfico de escravos, exploração das minas de prata da América Andina e das minas de ouro do Brasil, do saque continuado das riquezas da Ásia e da África, da guerra do ópio à partilha colonial do continente que até hoje provoca guerras tribais por conta da criação de fronteiras artificiais que tinham e tem pouco ou nada que ver com a história das populações originárias deste país, tudo na monarquia britânica fede a sangue e fezes.


A mídia celebrou este festim infernal como afirmação de uma “tradição democrática”, como se o direito baseado no sangue e originário de algum deus tivesse algo que arranhasse a ideia de uma democracia. Pois a mesma mídia ontem voltou às baterias para o consenso de Brasília. Esta mídia imperial, que deve pensar, como pensava Rousseau, que a América possui leões carecas, esta imprensa de bobos da corte do imperialismo, que vive de frente para o mar e de costas para seus países.

Estão dispostos a celebrar 11 anos de Margareth Tatcher no poder na Inglaterra, 19 anos de Angela Merckel no poder na Alemanha, como prova da vitalidade das democracias inglesa e alemã (que até hoje proscreve e proíbe o registro do Partido Comunista), mas diz que as seguidas eleições de Madurou ou Ortega são provas de “populismo” e de ditadura (em que pese os problemas da Nicarágua, as eleições dela são tão legítimas quanto a inglesa e ou a alemã).

Passaram o dia ruminando as mesmas bobagens de “ditadura da Venezuela” e foram capazes de reproduzir os besteróis de fake news bolsonaristas de que “Lula é amigo de ditadores”, lembrando que esta mesma mídia que nunca fez mea-culpa do golpe contra Dilma e foi quem ajudou a eleger Bolsonaro.


Pois bem, vamos aos fatos, a Venezuela pode ter muitos problemas, mas não, não é uma ditadura. Chávez e Maduro ganham seguidas eleições, porque na Constituição da Venezuela (princípio básico de autodeterminação dos povos e não de “alternância no poder”, que é um blablablá neoliberal para que não haja mudanças estruturais profundas) o povo determinou que um presidente pode ser eleito quantas vezes o povo desejar votar nele. E o povo votou, Chávez e Maduro seguidamente, o que é um direito do povo da Venezuela.

A social-democracia sueca, vista como “exemplo mundial”, ficou no poder 44 anos seguidos, pela vontade do povo da Suécia. Nunca vi um palpiteiro da Globo News ficar vociferando que a Suécia é uma ditadura, por não ter “alternância de poder”, ou explicar que os altos índices de saúde, educação e bem-estar se devem a um percentual de tributação do PIB de 44%!


Em resumo, em eleições feitas com urnas eletrônicas, com participação aberta da oposição, e com observadores internacionais, Maduro foi reeleito novamente e é o único legítimo presidente. Na Venezuela há liberdade extrema de imprensa, e não foi lá que Assange foi preso ou extraditado por revelar segredos dos golpes imperialistas dos EUA pelo mundo.

A Venezuela passou por duas tentativas de golpe, uma, em 2007, com sequestro do presidente Chávez, e que só foi dispersada pela força da população e por conta de uma ação bem sucedida de comandos militares leais ao presidente, que evitaram que ele fosse extraditado ou executado e o colocaram de volta no palácio do Governo.


Ah, mas dirão vocês, mas Maduro sofreu um impeachment e não aceitou o resultado dele. Não, Maduro não sofreu um impeachment, tentaram contra Maduro o mesmo golpe que deram no Paraguai, em Honduras e no Brasil contra Dilma. A Venezuela não é uma república parlamentarista, é uma república presidencialista. Lá houve um “julgamento político” de Maduro, por um Congresso que, na época, tinha maioria de oposição e aprovaram um referendo inconstitucional para retirar Maduro do poder.

Lá, diferentemente do que aconteceu aqui, o Supremo Tribunal não estava junto no golpe, e anulou todos os atos golpistas, tanto a tentativa de um referendo revogatório inconstitucional, como a declaração desesperada, ao fim do mandato de Maduro, que sua eleição seria ilegítima.

Aí houve aquela ópera bufa, com Guaidó (um agentezinho de segunda categoria da CIA declarando-se presidente interino num comiciozinho de porta de boteco) porque sabia que perderia a eleição.


Maduro candidatou-se, venceu, tomou posse. O Congresso foi renovado e a Venezuela normalizada, o roteiro de revoluções coloridas estilo Partido Democrata dos EUA, ONGs e CIA foi desbaratado e a Venezuela seguiu seu caminho democrático.

É bom lembrar, que isto não foi feito sem que houvesse um trabalho continuado de sabotagem e desestabilização a partir de um bloqueio desumano dos Estados Unidos, que não deixava chegar insumos, seja para a produção de petróleo, seja para a produção de remédios.

Isto gerou uma crise financeira inaudita, a produção petrolífera baixou de 1 milhão e oitocentos mil barris dia para pouco mais de 400 mil barris dia, gerando um descalabro nas contas públicas, desabastecimento, inflação, o roteiro de chantagem e boicote dos golpes da CIA contra os países de continente, o mesmo roteiro usado contra Jango, Allende, amplificado. Uma espécie de emenda Platt (a que é usada contra Cuba), com financiamento direto da oposição para desestabilizar o governo e atentados terroristas, no qual chavistas chegaram a ser queimados por terroristas pró EUA.

Então sim, na Venezuela há terroristas (e não opositores presos), assim como no Brasil os que praticaram os atentados de 8 de janeiro e os que os financiaram estão e devem ficar presos. Guaidó fugiu a pé, abandonado à própria sorte, porque seu convescote de golpista amador não deu certo.

Ah, sim, uma concessão de TV privada foi cancelada pelo “simples fato” de ter apoiado o sequestro do presidente e seu principal acionista ter ser declarado “Presidente da República” em 2007, em resumo, foi fechada de maneira legal pelo crime de alta traição, sabotagem e tentativa de golpe de Estado, venhamos e convenhamos, isto nada tem que ver com censura, mas com defesa da democracia, aliás, a Jovem Klan já deveria ter sido cassada no Brasil por alimentar o nazifascismo aqui.


O que ofende os jornalistas bobos da corte do imperialismo não é uma pretensa e inexistente ditadura na Venezuela. É que o consenso de Brasília uniu 11 presidentes da América Latina no sentido de criar um bloco político-econômico alternativo a ALCA…

PS. A propósito, o Reino Unido mantêm presos Assange e 31 toneladas de ouro pertencente à República Bolivariana da Venezuela.

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