Por Paulo Moreira Leite –
O atentado de Paris irá gerar, muito provavelmente, uma reação maior, mais destrutiva, mais vergonhosa, do que ele próprio.
Há muito para se lamentar no assassinato coletivo da redação do Charlie Hebdo.
Na realidade, tudo é lamentável: as mortes covardes; o silêncio imposto a raros talentos que não perderam a coragem de suas ideias.
Mas o atentado de ontem provavelmente irá gerar um efeito muito pior, mais destrutivo, mais vergonhoso, do que ele próprio.
Causará danos em escala gigantesca em todos nós.
A repressão sobre os imigrantes — todos — irá aumentar. Idem para o preconceito e a discriminação. O fascismo vai crescer e a liberdade religiosa estará sob ameaça, mais uma vez.
As fortes forças que nunca ofereceram uma folha de papel pela liberdades dos fracos estarão nas ruas para defender uma bandeira que só costumam empunhar em coquetéis e dias de festa.
Os opressores ficarão na posição de vítimas. Vão verter lágrimas e serão capazes de comover.
Porque mataram quem tinham uma causa nobre para viver.
Novos Kadafis serão assassinados, esfaqueados. Dessa vez, ninguém vai contar o número de vítimas, porque serão milhares. A tortura voltará, legalizada, mais uma vez? Quem sabe?
Não é possível comparar nem quantificar vidas humanas. Não estamos falando de objetos descartáveis nem mercadorias. É uma tragédia em si que dispensa uma análise de colaterais para ser dolorosa, inaceitável.
Em breve, teremos novas operações militares. O Iraque começou no 11 de setembro, é bom não esquecer.
O mundo vai ficar pior de novo, tenham certeza. A dúvida é saber quanto pior.
Este será o efeito duradouro do crime de ontem.