Por Jhose Cordeirovich, poeta, compositor, cantautor, que escreve e dirige para teatro
Feios
Mas o fato é que estamos feios
Com a cara parcialmente encoberta
Com a boca definitivamente fechada
Feia essa forma irregular
No ar, que quase não se pode respirar
E há quem proteste
Há quem se manifeste com bravura
Descompostura
Com ignorância até
Sim, por que estranho
O som do que era a sua voz
Que hoje soa surda com um esgar
Sem romance
E eu que lhe desejava beijar
Beijar já não posso
Queria eu lhe abraçar
Mas, e o medo?
De lhe contaminar
Nós que nos safamos até então, vivos
Temos do mundo civilizado
Essa triste visão
A visão de que estamos feios
Sem ética, sem respeito
Sem amor nem justiça
Não há paz para se usufruir do silêncio
Pois estamos na ribanceira, a beira
E no abismo,
Dançam nessa poesia besta
O retrato da feia figura que nos tornamos
Com esta máscara de pano
Com essa camuflagem improvisada
Não temos boca nem nariz
Só os olhos teus
Que ainda me olham
Como a dizer: te amo