É preciso ser atleta e estar “paramentado” de ciclista para pedalar?

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Por Raquel Jorge, publicado no Site Vá de Bike – 
Copenhagen, Dinamarca. Foto: Raquel Jorge
Copenhagen, Dinamarca. Foto: Raquel Jorge

Nossa espécie tem necessidade de identificação. Referências que reconhecemos nos confortam e proporcionam segurança. Não basta dizer que a bicicleta é para todos, que qualquer pessoa, de qualquer idade, com qualquer preparo físico, pode e deve ter acesso à ela. Há que se criar a identificação entre a bicicleta e o indivíduo, e um dos meios para que isso aconteça é mostrando imagens em que a pessoa consiga se ver nelas. Muitas marcas já perceberam isso e mudaram o foco de suas campanhas, incluindo imagens de pessoas reais, e não top models supostamente perfeitas.Eu sigo e acompanho muitas páginas e grupos cujo assunto é bicicleta. Amigos em trilhas, organizando eventos, fazendo MTB no interior e claro, os grupos noturnos de São Paulo. Na maior parte das imagens que são divulgadas (incluindo as minhas), as pessoas estão paramentadas, com roupas de ciclismo, sapatilhas, capacetes, luvas. Além disso há a alusão do desafio, do difícil, do preparo físico. Tudo isso é muito legal, mas acaba afastando as pessoas “comuns” do mundo da bicicleta. Claro que há exceções, principalmente para aqueles que já pertencem a este mundo, mas para quem está fora, fica a impressão de que é algo inacessível.

Não é necessário ser atleta para andar de bicicleta. Também não precisa necessariamente de roupas específicas. Basta estar confortável, e cada um encontra conforto do seu jeito – seja para ir ao trabalho, passear no parque ou viajar. Não há regras.




Copenhagen, Dinamarca. Foto: Raquel Jorge
Copenhagen, Dinamarca. Foto: Raquel Jorge

Estou há quase três meses na estrada, pedalando por países europeus em que a bicicleta já faz parte da rotina. Onde o clima, o relevo, as condições físicas ou a idade não são empecilhos para ir e vir de bicicleta. Sim, as cidades (e as estradas) oferecem uma estrutura sólida para quem pedala, e isso facilita muito o tráfego de magrelas. Mas há também o respeito dos próprios condutores, dos motoristas e dos pedestres.

E apenas para lembrar que nem sempre foi assim, estes países conquistaram esse direito que nós enxergamos como um privilégio. Se eles podem, por que nós não podemos? Ao invés de ficar na defensiva do “pagando pau pra gringo”, por que não ter um pouco de humildade e aprender com quem já sabe? Eu quero uma estrutura assim no Brasil. Quero que o privilégio passe a ser um direito. Um direito meu, da minha avó, dos meus pais, dos irmãos, vizinhos, colegas, amigos e de todos aqueles que já pedalam ou que ainda estão por descobrir os benefícios da magrela.

Idosa pedala em Dokkum, na Holanda. Foto: Raquel Jorge

A estrutura vai, aos poucos, tomando forma. Mas há algo que podemos exercitar antes mesmo que placas, vias e regras sejam criadas. Podemos exercitar o respeito, pois no fundo é ele que preserva a vida!

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