E se acabarem com o seu carnaval

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Ou descarnaval de abril?

Por Carlos Monteiro (texto e fotos), compartilhado da Revista Nova Família




Ô abre alas que eu quero passar pela Inconfidência como confidente, junto com “…Joaquim José/Que também é/Da Silva Xavier…”, mas não é primo do santo.

Liberdade, liberdade, com asas abertas sobre todos nós, pois a voz do povo é a voz de Deus!

Este ano não vai rolar em fevereiro, ninguém vai passar. Não vai passar nem a Lira, nem Rosa de Ouro. Não adianta pedir passagem, esse ano não será igual ao que passou.

Não tem #BandadeIpanema, #CordãodaBolaPreta, não tem #OrquestraVoadora, não tem #Monobloco, quanto mais Stéreobloco. Não vamos subir para Santa porque #AsCarmelitas ficarão enclausuradas, rogando aos céus que tudo se resolva aqui na Terra. Não tem #Simpatia; o amor se perdeu no estandarte da angústia e da solidão.

O #SovacodeCristo – saudades do chorinho no Suvaco, assim com ‘u’ mesmo, de #CobradaPenhaCircular – será somente o Redentor em sua ‘tarefa hercúlea’ de zelar pela #CidadeMaravilhosa, com tantos rotos inconsequentes e esfarrapados irresponsáveis que a transformaram num jardim das perdidas ilusões, como os velhos blocos de sujos que nunca tiveram fantasia. Eles, os blocos, assim como o ‘futebol das piranhas’, pelo menos, traziam alegrias ao povo, uma espécie de #Garrincha carnavalesco.                              

O #BaixoGávea também não é mais igual, mesmo se estivéssemos em festa já não teríamos o chope no Hipódromo e o sorriso do Sassá. Se perderam na multidão, Minas não há mais. Não teríamos o Me Beija que eu sou Cineasta. Já não se beija como d’antes na #SantosDumont. Com as máscaras já não se beija mais em lugar algum. Saudades daquele beijo que, o inesquecível #Tavito, tascou em sua amada Celina; virou até música.

Então, ninguém leva a mal: o beijo estará liberado  no #Carnaval, mas só com máscara negra!    

Quero matar a saudade num corso ou numa marcha-rancho, perdido em eternas ilusões. E os bate-bolas, Clóvis suburbanos multicoloridos, genial genuína cultura carioca, onde estarão? Como #VincentRosenblatt vai registrá-los em prosa e alegria. Como #EvandroTeixeira fará contraluzes sensacionais, em preto e branco, naqueles incríveis planos abertos?

Os ensaios nos barracões em retalhos de cetim, purpurina salpicada, escondem as fantasias entornadas pelos chãos. Madureira chorou. Chora de dor,

…Mil paetês salpicando

O chão de poesia

A vedete principal

Do subúrbio da Central foi a pioneira

Este ano seremos palhaços das perdidas ilusões, num Carnaval que não existirá, ou na transgressão, acontecerá duas vezes como em 1892 e 1912, com máscaras negras de pesar pela festa que acabou e o povo sumiu drummonianamente. Meno Male! Quando fevereiro passar as polêmicas em relação às fantasias politicamente corretas ou incorretas dos nomes de blocos ofensivos e das músicas e marchinhas de conteúdo homofóbico, misógino, sexista, racista e preconceituoso não inundará às redes sociais com acaloradas discursões.

Bailarina pode? Pirata então…        

Vou de Pierrô e ela de Colombina, não pode?

Mas é Carnaval, não me diga quem é você, seja o que Deus quiser. Peter Pan e Sininho, podem? O que pode afinal?

Também não seremos testemunhas de quantos blocos os amigos seguiram. Não haverá postagens nem mensagens de onde cada um está. É bem capaz de que assistiremos a bailinhos residenciais em lives intermináveis, algumas delas chatíssimas, blocos e mais blocos com o lema “concentra [na sala] mas não sai” e retiros espirituais nas varandas e jardins de casa. Vai ser um “oṃ maṇi padme hūṃ” uníssono e vibrante anunciando o fim da pandemia.

As marchinhas andarão pelas JBLs da vida. Qual será o grande sucesso?

É ano de eleição! Oremos! O Sambas-enredo e as temáticas brasileiras sergioportianas.

…Assim se conta essa história

Que é dos dois a maior glória

A Leopoldina virou trem

E dom Pedro é uma estação também

oô. oô, oô, o trem tá atrasado ou já passou…

Vão tonitruar? O trem passou na história, perdemos o bonde.

 A #PassareladaSapucahy estará iluminada em homenagens, luzes especiais, uma avenida sem o colorido das fantasias. Pista e arquibancadas formando o bloco da solidão. Somente o surdo de marcação repleto de banzo, melancólico, triste, angustiado e misantropo. Mesmo com o palco iluminado, apagado pela soturnidade, a apoteose se mostrará infinita e as estrelas brilharão nos céus.

Também não terá a célebre frase anual, justificativa da espera para negócios e acontecimentos e da mornaça dos dois meses que abrem o ano. “O ano só começa [comercialmente falando] depois do Carnaval”. Agora é que Momo chora, se não temos folia, o ano não começará?

Frase de efeito talvez. Haja vacina no braço, haja Carnavais, haja fôlego.

E quarta-feira, um ano inteiro em cinzas, mas 2023 logo chegará, com muita vacina no e sem pandemia. Deixa o dia raiar, amanhã voltará tudo ao novo normal. A águia altaneira da #Portela será Phenix, ressurgirá dessas cinzas, o conde, fantasia de plumas azuis. Batam palmas, aplaudam quem sorri, independente se você vai na pista ou na galeria, a #TabajaradoSamba estará lá!

 Nos restará chorar um rio de lágrimas, derramar nossas mágoas pelo Rio que passou em nossas vidas, nos guardando para quando o Carnaval de 23 chegar e botarmos nosso bloco na rua com ginga e gemedeira. Porque o #Carnaval deste ano, dizem, será Tiradentes, temática de tantos enredos. Será?

‘Tô’ me guardando para quando ele chegar!

Abril é logo ali porque o lema é “fazer amor, não a guerra”!

Eu ‘tô’ putim com o Vladmir.

Sai da frente que eu quero botar meu bloco na rua cheio de paz e alegria.

E agora José Pereira, para onde?

Carlos Monteiro é jornalista e fotógrafo. Colunista da Revista Nova Família

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