E surge o Cinema ….

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Por Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite* – 

Trazido pelo empresário Francisco de Paola e seu sócio Dawison, no dia 4 de novembro de 1896, o Cinematógrafo teve sua primeira apresentação, na Rua da Praia, nº 349. A exibição das imagens, em movimento, deixou o público presente perplexo diante da novidade que se transformaria na sétima arte. Os jornais, a exemplo d”A Reforma (1869-1912), de 04 de novembro de 1896, anunciaram a exibição, em Porto Alegre, da nova invenção que projetava a “fotografia animada”.




cinematografo
Cinematographo Lumiére

As primeiras imagens eram vistas panorâmicas, que retratavam as belezas naturais e registros de eventos públicos, como procissões, acontecimentos políticos de outros locais fora do nosso Estado. Em 26 de fevereiro de 1901, o Correio do Povo anunciou a apresentação do Cynematographo, com exibições diárias, no Teatro São Pedro. Embora as críticas da elite conservadora, as exibições continuaram até até o ano de 1909.

Em 20 de maio de 1908, foi inaugurada a primeira sala de cinema, o Recreio Ideal, na Rua dos Andradas, em frente à Praça da Alfândega.  O local era propriedade de José Tours, que representava uma fabrica espanhola de aparelhos cinematográficos.

No dia 27 de março de 1909, data oficial do cinema gaúcho, foi exibido o primeiro filme de ficção no Rio Grande do Sul, cujo título é ‘Ranchinho do Sertão’. O pioneirismo do Cinema gaúcho remete-nos aos nomes de Eduardo Hirtz, Francisco Santos, Carlos Comelli, Laffayete Cunha, Emílio Guimarães, entre outros.

Rua dos Andradas POA
Vista da Rua dos Andradas, em frente à praça da Alfândega. Nesse local (nos prédios à esquerda.) foram exibidos  os primeiros filmes em Porto Alegre.

Em 29 de novembro de 1913, foi inaugurado o primeiro cineteatro de Porto Alegre: o  Guarany.  Este se localizava na Rua dos Andradas,  em  frente  à  Praça da Alfândega,  em um prédio  projetado pelo arquiteto alemão Theo Wiederspan (1878 -1952).  Atualmente, esse prédio está sendo restaurado.

 Até o ano de 1927, as películas eram mudas.   O primeiro filme sonoro no mundo, O cantor de jazz,  foi exibido em 06 de outubro de 1927. Seu criador foi americano Alan Crosland.

No Brasil, o primeiro filme sonoro foi a comédia “Acabaram-se os otários” (1929), de Luiz de Barros.  O musical “Coisas nossas”, de 1931, de Wallace Downey, era  cantado em português, com artistas brasileiros.  Infelizmente, restou-nos apenas o registro sonoro em oitos discos, que perfazem sete partes, faltando uma da sequencia original. Este material foi identificado pelo pesquisador Jesus Pfeil no Museu da Comunicação Hipólito José da Costa e, felizmente, foi recuperado pelo técnico Flávio Richiniti.

No ano de 1940, estreou Cachorricídio, o primeiro filme sonoro do Rio Grande do Sul, produzido pela Leopoldis Som. O músico e radialista Antônio Francisco Amábile (1906-1956) atuou como ator principal, além de ter escrito o script e ser o responsável pela parte musical.

O nosso cronista Achyles Porto Alegre (1848-1926) se inquietava em relação às novas formas de divertimento do início do século 20.  Em sua opinião, os espaços fechados, destinados a sociabilidades públicas, eram locais frequentados pela “arraia miúda”, como o cinema que considerou um instigador de maus costumes. Embora as críticas do nosso cronista e da Igreja, a partir do final da década de 1910, o cinema se expandiu e atraiu o público para as salas de exibição, tornando-se a expressão genuína da modernidade, pois influenciou no comportamento social, por meio da propaganda de produtos voltados à beleza, à moda e ao consumo de bebidas e cigarros. Enfim, criou-se uma cultura cinematográfica.

Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite é pesquisador e Coordenador do Setor de Imprensa do Musecom*
Bibliografia:
CONSTANTINO, Núncia Santoro de.  A Conquista do Tempo Noturno: Porto Alegre “Moderna”. Estudos Ibero-Americanos, Porto Alegre, v. XX, n.2, p. 65-84, 1994.
MATTOS, Carlinda M. Fischer.  Cinema e Memória no Rio Grande do Sul. In: “Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa – 30 anos”. Porto Alegre: CORAG, 2004.
TRUSZ, Alice Dubina.  Entre Lanternas Mágicas e Cinematógrafos.  São Paulo: Terceiro Nome, 2010.
http://www.carlosadib.com.br/poa_fatos.html acessado em 03/01;2016

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