É urgente destruir a rede neofascista de desinformação

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Como bem demonstram as teorizações de Mikhail Bakhtin, a consciência humana é ideológica. Nossa consciência se constrói pela linguagem, que nos mergulha no caudal das ideologias e nos põe em contato com outras consciências, com as quais vivemos em constante diálogo. Assim, intervir sobre o fluxo e a qualidade das informações é intervir sobre o que e como as pessoas pensam, para moldar suas crenças, desejos, valores, medos.

Por Vidomar Silva Filho, compartilhado de Construir Resistência




Foto: Lucas Lacaz Ruiz / A13

Isso posto, fica claro o efeito deletério das chamadas bolhas sociais e das redes de desinformação sobre a mente de milhões de brasileiros. Só uma intervenção sistemática, constante, incansável sobre a consciência de milhões de nossos compatriotas é capaz de explicar como fatos incontestáveis são tomados como mistificação e como mentiras absurdas ganham o status de verdades. Só isso explica como um governo pavorosamente ruim tenha encerrado com aprovação superior a 60%.
Os insanos que ainda aguardam a intervenção das Forças Armadas, os fanáticos messiânicos que ainda esperam que Jair Bolsonaro retorne ao Brasil para assumir a Presidência, os militontos que ainda acampam em frente aos quartéis, os coitados que ainda creem estupidamente que o Brasil se tornará uma ditadura comunista, toda essa gente foi intencionalmente enlouquecida, sofreu severa lavagem cerebral que acarretou perda de contato com a realidade. Hoje essa massa de manobra deve inspirar-nos mais piedade que ódio. É gente que precisa ser resgatada do abismo de loucura e desconexão cognitiva em que a atirou a máquina de desinformação bolsonarista, operante de forma ininterrupta desde 2017.
Se quisermos que o País retorne à normalidade democrática, sem a ameaça constante de loucuras terroristas como a de 24 de dezembro em Brasília, será preciso identificar, responsabilizar criminalmente e punir de forma exemplar os produtores e divulgadores de propaganda incentivando o extremismo. Temos que fazer cair sobre esses canalhas a força da lei.
Não acompanho Twitter, nem tenho acesso a grupos extremistas no Telegram ou no WhatsApp. Mas a amostra que tenho no Facebook é preocupante e revela um modus operandi similar: Alguém que se diz jornalista, advogado, influenciador, pastor elabora uma análise tortuosa, que cria uma realidade paralela destinada a provocar ódio e paranoia, enquanto mantém viva a esperança no sucesso de um golpe de estado, nunca mencionado com todas as letras. Os apitos de cachorro soam constantemente. Figuras públicas são atacadas com calúnias e termos ofensivos. São alvos preferenciais o Presidente Lula e o Ministro Alexandre de Morais, mas não faltam agressões aos comandantes militares que se recusaram a embarcar na aventura golpista e ao próprio Bolsonaro, já visto por alguns como fraco e traidor.
Em alguns canais, é mantido na tela um número do Pix para angariar doações de incautos. Ao final de cada vídeo, o pedido por dinheiro é reforçado. Ou seja, há calhordas usando o extremismo para arrancar dinheiro de incautos. Já prevendo que a Justiça cairá sobre eles em algum momento, dizem-se perseguidos, censurados e que o dinheiro é necessário para que possam continuar no seu trabalho de trazer a verdade, reestabelecer a liberdade, salvar o Brasil do comunismo, e por aí vai.
Percebo que o Facebook é por demais leniente com esses criminosos. Nenhuma das muitas denúncias que fiz sequer teve resposta. Portanto, é preciso levar as queixas diretamente à Justiça, denunciar esses irresponsáveis e exigir uma ação imediata e enérgica do poder público, para fazer cessar a sequência diária, constante de crimes contra o estado democrático de direito.
Entenda-se, por favor, que não estou advogando censura. Nenhum governo democrático deve sequer cogitar calar os que lhe fazem oposição. A democrática plena e saudável, sabemos, nutre-se no diálogo dos contrários. Mas é preciso impor barreiras urgentes à produção e veiculação de discursos de intolerância e golpismo.

Vidomar Silva Filho é professor universitário aposentado e escritor.

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